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segunda-feira, novembro 25, 2024

Lula descarta volta à Presidência após conclusão do mandato

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em entrevista publicada na edição deste domingo (15) do “Jornal do Brasil”, que não pretende retornar à Presidência após cumprir seu mandato e que o país precisa crescer continuamente entre 4,5% e 5% ao ano por 15 anos para entrar no rol dos países ricos. Na entrevista, o presidente disse ainda que pretende usar os royalties do petróleo para financiar a educação e que vai cobrar mais produtividade dos assentamentos de sem terra. Veja abaixo os principais trechos.

Retorno em 2014

Dia 1º de janeiro de 2011 eu entregarei a Presidência da República e vou para casa. Não tenho interesse de ser candidato a senador, a governador, a vereador. Nada. Não trabalho com a hipótese de volta [à Presidência]. Se eu puder fazer um juramento: pela felicidade do meu filho caçula. Por que eu não trabalho com a possibilidade de voltar? Eu trabalho com a possibilidade de fazer a minha sucessão. Se eu eleger meu sucessor e ficar do lado de fora dando palpite, com poucos meses terei a pessoa que elegi como minha adversária. Como acontece em alguns países e como já aconteceu aqui. Se eu elegi uma pessoa, eu tenho a obrigação moral de ajudar essa pessoa a governar bem. E uma forma de ajudar a governar bem é não dar palpite. Se for consultado, ainda assim, falar em off. Qual é a hipótese de voltar? Se você estiver vivo ainda, se for um adversário que seja eleito. Trabalhar com essa hipótese é no mínimo mesquinharia elevada à quinta potência.

Eu não tenho candidato. Mas começaram a atacá-la [Dilma] quando disse no Rio de Janeiro que Dilma era a mãe do PAC. Ela trabalha nesse PAC 24 horas por dia, controla todos os investimentos do PAC, fica sabendo se é preto, se é roxo. Ela é quem chama os ministros, que presta contas para mim a cada mês, que presta contas para a imprensa. Depois que eu disse isso, talvez os adversários entenderam que era uma senha. E começaram a atacar. A Dilma tem competência? Eu digo, tem. Agora, entre ter competência gerencial e uma candidatura à Presidência, há uma distância da largura do Oceano Atlântico.

Sem terra

Na hora que você tem geração de emprego, há menos gente para os assentamentos. Em cinco anos e meio nós desapropriamos 35 milhões de hectares de terras e o governo passado, em oito anos desapropriou 18 milhões de hectares. Chega um momento, quando você assenta 501 mil famílias, que o problema não é mais assentar. Nós tomamos na semana passada a decisão de fazer os assentamentos produzirem mais alimentos. Chegou a hora de dobrar ou triplicar a produtividade das pessoas que estão no campo. Não podemos permitir que fiquem apenas naquela agricultura de subsistência. Precisamos dar condições para produzirem e ganharem dinheiro. As pessoas têm que saber que ganhar dinheiro é bom.

Juros, inflação e crescimento

O grande prejudicado com a Selic é o próprio Estado, porque aumenta a dívida pública. O problema é a inflação. E por que há inflação? Porque algum setor está aumentando o preço. Se ninguém aumentasse o preço, não teríamos inflação. Há setores que estão aumentando porque dependem de matéria-prima internacional, mas isso não explica o caso do feijão, do arroz, que são coisas nossas. No caso do aço, o minério é brasileiro, as siderúrgicas são brasileiras, os salários são em reais, então não há por que acompanhar o preço internacional. Tenho dito tanto para empresários como para agricultores: está na hora de vocês alertarem os setores que estão elevando os preços. E qual é a alegação para aumentar preços? Aumenta a demanda na construção civil, aumentam os preços. Os empresários deveriam ter um procedimento diferente. Na medida em que aumenta a demanda, não precisa aumentar o preço. Vocês vão ganhar mais pelo aumento do volume de vendas. O Brasil precisa ter um crescimento sustentado de 4,5% a 5% durante 10 ou 15 anos consecutivos. Se o Brasil fizer isso, nós entraremos no rol dos países ricos.

CSS

Isso será uma decisão do Congresso. Os senadores votarão com sua consciência. Graças a Deus as instituições no Brasil funcionam exageradamente bem.

Petróleo e educação

Eu trabalho com o cenário de que o Brasil será o terceiro ou quarto produtor mundial de petróleo. O Brasil não pode se conformar a ser um país exportador de petróleo bruto. Nós precisamos usar essa potencialidade em petróleo e criar uma verdadeira indústria petroleira neste país. Um estaleiro para construir sonda, um estaleiro para construir plataforma, um estaleiro para construir embarcações. Hoje, se a gente tivesse que completar todas as sondas que a Petrobras precisa para começar a trabalhar, a gente não teria condições só com a produção brasileira. Será preciso a gente trazer de fora para que dê tempo de o nosso parque industrial se preparar. Mas essa é uma oportunidade excepcional para a gente desenvolver a indústria naval brasileira. E eu acho que nós precisamos aproveitar esse petróleo, eu não discuti ainda com ninguém o que nós vamos fazer com o petróleo, que pertence à União. As áreas que não foram leiloadas ainda são da União. Eu estou pensando seriamente nos investimentos que podemos fazer. Eu sonho com a criação de um fundo para investir na educação neste país.

Caso Varig

É como se alguém levantasse pela manhã, fosse fazer um suco de laranja e a laranja não tivesse suco. Ou seja, como é que podem alguns senadores passarem 9 horas naquela conversa com ela, sem nada. Espremiam, espremiam e, nada. O que deu? Qual é o resultado daquilo? Esse caso da Varig foi inteiramente cuidado por um juiz, começou e terminou. Não houve participação do governo, porque o governo não podia fazer nada. Estava na mão do Judiciário. Agora vêm as pessoas e dizem: mas o governo tinha pressa. Lógico que nós tínhamos pressa. A Varig estava quebrada. Todo dia a manchete era sobre o caos aéreo.

Eleição norte-americana

Não posso dizer [se torce por uma vitória do democrata Barack Obama em relação ao provável candidato republicano, John McCain, nas eleições dos Estados Unidos, em novembro]. O Monteiro Lobato escreveu que um dia haveria uma disputa entre uma mulher e um candidato negro nos Estados Unidos. É o que está acontecendo com o Barack Obama. Eu acho que é uma revolução na cabeça do eleitorado americano. Se Obama ganhar será mostra de grande evolução. Essa é a grande novidade desses últimos 100 anos da História. E Deus queira que, ganhando as eleições, ele possa ter uma política dos Estados Unidos diferente para América Latina. Não [o conheci]. Mas tem a vantagem que o Mangabeira Unger [ministro de Assuntos Estratégicos] foi professor dele em Harvard. É um companheiro, indiretamente… Os EUA deveriam ter um olhar para a América Latina, que não fosse o olhar conspirador. Não existe mais ninguém querendo fazer revolução na América Latina. O novo presidente deveria ter um olhar positivo.

G1

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