Lula dá lição de economia com reservas de 350 bi de dólares
Durante evento do Mercado Livre, Lula afirma que Brasil está seguro contra crises globais, cita reservas de US$ 350 bilhões e defende crédito acessível e geração de empregos.

Durante sua participação em um evento do Mercado Livre em São Paulo, nesta segunda-feira
(7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou a confiança na estabilidade econômica do
Brasil frente a desafios internacionais, como políticas protecionistas e flutuações do mercado
global. Em um discurso espontâneo e carregado de simbolismo político, Lula afirmou que o
país possui um “colchão de US$ 350 bilhões” em reservas internacionais, construído durante
seus governos anteriores, o que garante proteção diante de possíveis crises externas —
mesmo “com Trump falando o que quiser”.
A fala foi um claro recado de que o Brasil, apesar das tensões comerciais globais e
especulações do mercado, mantém hoje uma base sólida para resistir a pressões externas.
“Esse colchão nos dá uma certa tranquilidade”, afirmou, referindo-se também ao papel do
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na condução da economia.
Lula traçou um paralelo entre o cenário econômico que encontrou em 2003, quando assumiu
pela primeira vez a Presidência da República, e o atual. Na época, o país estava endividado
com o FMI, com inflação em 12% e desemprego próximo de 11%. “Muita gente dizia que eu
tinha entrado numa enrascada”, recordou, lembrando que o Brasil devia US$ 30 bilhões e não
possuía reservas cambiais. Segundo ele, foi a persistência herdada de sua mãe, Dona Lindu,
que o impulsionou a não desistir: “Ela dizia: ‘Teima, Lula, que a coisa vai acontecer’”.
De acordo com o presidente, a política econômica de seu governo permitiu a quitação da
dívida com o FMI e a formação de reservas internacionais que chegaram a US$ 370 bilhões.
Esse fundo continua, segundo Lula, sendo um escudo fundamental para proteger o Brasil de
oscilações globais, inclusive das tarifas comerciais impostas por outras potências.
Além do aspecto macroeconômico, o discurso também destacou políticas de geração de
empregos, valorização do salário mínimo e acesso ao crédito. O presidente citou com orgulho
a geração de 24 milhões de empregos com carteira assinada em seus mandatos anteriores,
além do crescimento de 7,5% do PIB e 13% no comércio.
Aproveitando o cenário do evento — a expansão do Mercado Livre, que anunciou um
investimento recorde de R$ 4 bilhões e 14 mil novas contratações em 2025 — Lula fez questão
de ligar o sucesso da empresa ao momento econômico vivido pelo país. “A economia brasileira
vai surpreender de novo”, declarou. Ele contestou previsões pessimistas do mercado sobre o
PIB de 2024, afirmando que especialistas erraram ao subestimar o crescimento de 3,4%
registrado no ano anterior.
O presidente também reforçou o papel social do crédito consignado com juros baixos,
destacando que a partir deste mês trabalhadores poderão renegociar dívidas com taxas
reduzidas por meio de bancos públicos. “Se você pagava 4%, 5%, até 6% ao mês, agora pode
pagar metade”, explicou, incentivando o uso consciente do crédito como ferramenta de
inclusão financeira.
Outro ponto forte do discurso foi o incentivo à educação contínua e à igualdade de
oportunidades. “Não parem de estudar. A educação é o que garante a sustentabilidade da
vida”, disse Lula, emendando com a defesa da equiparação salarial entre homens e mulheres
que exercem a mesma função: “Mulher não é cidadã de segunda classe. Tem a mesma
inteligência, e muitas vezes mais capacidade que os homens”.
Num dos momentos mais emocionantes, o presidente se dirigiu diretamente aos
trabalhadores e trabalhadoras presentes, agradecendo o clima de otimismo e valorizando o
papel humano por trás dos números da economia: “O ambiente de trabalho e o sonho que se
cultiva ali dentro valem tanto quanto o salário. Eu nunca vi tanta alegria no rosto das pessoas
como vi hoje aqui”.
O discurso também teve pitadas de crítica social e compromisso com justiça histórica,
especialmente ao mencionar os povos indígenas: “Eles só têm 13% da terra hoje porque antes
tinham 100%. Nós é que ocupamos o espaço deles. É hora de reconhecer e reparar”, disse ao
relembrar visita recente ao Xingu.
Ao encerrar sua fala, Lula reforçou a visão de um país com distribuição de renda e
oportunidades, propondo um Brasil onde “todo mundo tenha um pouco, para que todos
possam viver com dignidade, comer bem, viajar, se vestir com orgulho e educar seus filhos
com qualidade”.
O tom foi de otimismo, mas também de mobilização, ao lembrar que os avanços não
dependem apenas do governo: “Esse país de classe média está nas nossas mãos. Não depende
dos Estados Unidos, da China ou da Argentina. Depende de nós, brasileiros”.
Fonte: Da Redação