Entidades de todo o país manifestaram apoio à professora atacada em palestra

Interrompida aos gritos por um estudante bolsonarista durante uma palestra sobre Direitos Humanos em Rondonópolis, a professora doutora Priscila de Oliveira Xavier Scudder acabou virando destaque nacional. O que num primeiro momento foi comemorado como uma vitória dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), acabou se transformando num ato de resistência democrática encampado por centenas de lideranças, instituições e movimentos sociais de Mato Grosso e do Brasil.
O episódio ocorreu durante um evento realizado numa universidade privada e organizado pela subsecção da OAB em Rondonópolis – que foi a primeira a se pronunciar sobre o assunto através de um pedido formal de desculpas à educadora.
Na seqüência vieram as manifestações (veja lista abaixo) de dezenas de entidades ligadas à Educação, ao movimento negro e também de partidos políticos. Em notas públicas repudiaram a agressão e reafirmaram a defesa da liberdade de cátedra e de expressão, o combate ao racismo, ao machismo e aos movimentos totalitários que ameaçam a democracia no país.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) lamentou o episódio e considerou que o ataque à professora Priscila Scudder é reflexo do tratamento dispensado pelo presidente da República à Educação e aos educadores.
“Temos certeza que isso (a agressão) é, em muito, fomentado pelas falas do atual Presidente da República que, desde que assumiu o Palácio do Planalto, acusa os/as professores/as das mais nefastas qualificações. Nunca toleramos e não será agora que toleraremos a perseguição e a censura aos/às professores/as desse país. Toda nossa solidariedade à Priscila Scudder e repúdio aos “guardas da esquina” de plantão!”, disse a CNTE em nota.
O Sintep-MT, que representa os trabalhadores da educação no Estado, e também a Adufmat, que congrega professores da Universidade Federal de Mato Grosso, também divulgaram nota criticando a agressão e oferecendo apoio, inclusive jurídico, à professora.
Em Rondonópolis o presidente da subsede do Sintep, João Eudes, lamentou o episódio e também declarações feitas pelo deputado estadual Claudinei Lopes (PL) afirmando que educadores e palestrantes não podem emitir opiniões críticas, devendo se restringir à ‘ministrar sua palestra e dar sua aula de forma objetiva e acabou’.
“A professora fez a crítica com base naquilo que cientificamente a gente acredita. É estranho a gente ter uma representação política com uma mentalidade dessa natureza. Os professores têm liberdade de cátedra e normalmente se posicionam, fazem críticas, em princípios regidos pela ciência. Lamentável que o deputado tenha essa postura negacionista”, disse João Eudes.
OUTRAS REAÇÕES
A direção nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) também apontou o negacionismo como causa das agressões e manifestou apoio à professora Rondonopolitana.
“Manifestamos nossa irrestrita solidariedade à professora Priscila Scudder, e nosso repúdio contra a agressão por ela sofrida no momento em que manifestou suas críticas ao pior governo da história do nosso país. Em defesa da liberdade de expressão, da democracia, do Estado Democrático de Direito e pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras! Censura Jamais!”, destacou a nota.
Já as entidades ligadas ao combate ao racismo, ressaltaram o fato de Priscila ser uma mulher negra como agravante da situação.
Além do reconhecimento nacional pela qualificação acadêmica, a professora também é uma ativista dos direitos das mulheres e dos negros e foi uma das fundadoras do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Universidade Federal de Rondonópolis.
“Repudiamos toda e qualquer forma de agressão, racismo e misoginia. Unimos forças também à professora doutora Priscila Xavier Scudder para que se mantenha firme diante de suas lutas e idéias”, disse o presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Wagner Santos – sintetizando o pensamento também expresso por outras entidades e instituições.
Veja a seguir a relação de algumas entidades e lideranças que se manifestaram oficialmente sobre o caso:
Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE)
Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat)
Associação Nacional de Pesquisadores e Pesquisadoras Negras e Negros
Consórcio de Neabis do Centro Oeste
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI – IFMT, UFR, UFGD)
Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT)
Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS)
Ordem dos Advogados do Brasil – Subsecção Rondonópolis
Movimento Negro Unificado de Mato Grosso (MNU-MT)
Movimento Negro Unificado de Pedra Preta
Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Rondonópolis (Compir-Roo)
Conselho Municipal de Educação de Pedra Preta
Partido dos Trabalhadores (PT)
Vereadora Edna Sampaio (PT- Cuiabá)
Vereador Klebis Marciano (PT-Pedra Preta)
(Eduardo Ramos – Da Redação)