Greve dos professores

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Seis anos depois de ter participado e vivenciado uma das maiores greves dos trabalhadores da educação no Estado de Mato Grosso, deflagrada em 07 e agosto de 2013, e, como muitos fiquei chocado com a situação, a grande repressão do governo estadual comandado por Silval Barbosa (PMDB), o que não distancia do momento vivenciado em 2019.
As impressões dos trabalhadores na época não eram muito boas, havia descaso por todo o lado, salários baixos, infraestrutura ruim das unidades escolares, salas superlotadas enfim, falta de respeito ao profissional e aos alunos que são os principais sujeitos da educação pública.
Entre as reivindicações dos professores da rede estadual, no movimento grevista atual está a promoção de ações de infraestrutura nas escolas estaduais, a convocação de todos os aprovados e classificados no concurso público da Seduc, realizado em 2017 e o cumprimento da chamada “Lei da Dobra do Poder de Compra” (nº 510/2013) que equipara os vencimentos dos servidores da educação aos dos demais profissionais de mesmo nível que atuam no Poder Executivo de Mato Grosso.
Mas, parece que o atual governo, de Mauro Mendes (DEM), faz vistas grossas às reivindicações dos servidores.
Assim, nos cabe perguntar:
Até quando "projetos inovadores" sem ampla discussão serão implantados em nossas escolas sem diálogo?
Mas, pensando bem, não é de se admirar das atitudes tomadas pelo governador de MT, uma vez que é filiado ao DEM, partido composto por vários políticos tradicionais, como Júlio José de Campos, um dos que representa o “velho jeito de fazer política” e tenta manipular a opinião pública com discursos que não se traduzem em políticas efetivas para a população.
Júlio Campos quando ele foi governador deixou os funcionários públicos 6 (seis) meses sem salário, nesse período os professores fizeram três meses de greve. Em uma entrevista na televisão, Júlio respondeu aos professores com um gesto polêmico, dando uma ‘’banana’’ para eles, e ainda disse uma frase que ficou na história da política mato-grossense: “a mesma caneta que nomeia, demite’”.
Pelo visto, o governador Mauro Mendes aprendeu rapidinho como deve agir para coagir uma categoria tão desvalorizada como a dos profissionais da educação. Os tempos são outros, porém, as medidas também, enquanto um mostrou a caneta, o outro retira os direitos conquistados durante toda trajetória da categoria. De forma mais vulgar ainda, pois descontou o ponto dos professores, dessa maneira fragilizando o movimento legitimo de greve.
Há um jogo de contraposição da Secretaria contra a classe, uma vez que constantemente faz chegar aos e-mails dos docentes-gestores documentos que exigem nomes, dados dos professores não grevistas, com o intuito de realizar uma organização para o pagamento. Mas convenhamos, ele é um gestor, se é bom na iniciativa privada eu não sei, mas como governador é estratégico, pois conseguiu perceber que uma parcela dos professores não entendem nada de política e nem de conflito de classes, aproveitando disso, está sambando de salto alto na história de luta de uma categoria.
Mas não podemos negar que também existem outros contextos, isso já entre nós, ou seja, categoria. Muitos professores dizem ou tentam justificar a causa da não participação no movimento, dizem que não são alienados por partido politico, isso se referindo ao PT, de onde há um grande número de pessoas participando na base do sindicato dos profissionais da educação.
Mas estudando, pesquisando, e fazendo apontamentos, não encontramos outra forma de luta por direitos trabalhistas, de categoria, se não for por uma associação ou sindicado, neste caso o Sintep. Muitos professores criticam, mas não entendem, não sabem como se organiza uma base e com ela uma associação que trará benefícios para uma categoria.
Penso que os professores que retornaram ao trabalho antes da deliberação em assembleia geral da categoria não pensaram, não entendem ou valorizam seu trabalho na escola. O que fica bem claro é que direitos estão em jogo, como a hora atividade do contratado, o aumento real do salário, a incorporação de todos os valores recebidos na ativa ao se aposentar, entre outros.
Então senhor governador, saiba que o direito de greve no serviço público está previsto no artigo 9º, da Constituição Federal, sendo regulamentado pela lei Nº 7.783/89, tendo por objetivo defender os interesses da categoria profissional.
Sendo assim, concluo dizendo que o maior “currículo” de um professor é poder enxergar no aluno de hoje um cidadão do amanhã.
Um professor jamais deixa de sê-lo para o aluno e para a sociedade em que vive, talvez por isso, sua visão não é imediatista e sim para toda vida!
È por isso que não fugimos a luta.

EDSON CARMO é professor de Geografia, Especialista em Urbanização e Ordenamento do Território pela Universidade de Lisboa – PT, Especialista em Educação Especial pela FAVEC – MT e Mestrando em geografia/ UFMT.