“A pessoa estava tomada pelo ódio. Não pensou na família dele, nem na minha. Ele matou enquanto gritava ‘aqui é Bolsonaro, aqui é mito’. Estamos todos muito apavorados”. Assim o jovem Leonardo Arruda descreveu a ação do bolsonarista José da Rocha Guaranho assassino de seu pai, o guarda municipal Marcelo Arruda. O crime ocorreu ontem, durante a comemoração dos 50 anos do guarda municipal. O assassino também foi baleado, mas foi socorrido e segue internado.
Leonardo e a atual esposa de Marcelo Arruda falaram hoje à imprensa sobre os momentos de terror imposto pelo assassino. Eles confirmaram a versão de que foi um crime político e que a tragédia poderia ter sido ainda maior se o guarda municipal, mesmo ferido, não tivesse reagido.
“Ele gritava que ia matar todos os petistas, gritava palavras de ordem e ‘aqui é Bolsonaro’. Ele acertou três tiros no meu pai. Pelo ódio dele, parecia que ia matar todo mundo. Mas meu pai conseguiu evitar o pior, antes de morrer”, disse Leonardo.
A viúva de Marcelo, Pamela Suellen Silva, 38, contou que o assassino havia passado no local antes e feito ameaças a todos que estavam no local. O motivo da revolta seria a decoração da festa, feita em homenagem ao PT e ao presidente Lula.
“Quando o homem (assassino) saiu, Marcelo foi até o carro e pegou a arma, dizendo que tinha que se prevenir. Dez minutos depois o homem voltou, saiu do carro com a arma em punho e começou a atirar. Atirava a esmo na direção das pessoas, foi quando Marcelo sacou da arma e revidou. Houve a troca de tiros, ele acertou a perna do Marcelo e depois o abdômen. Marcelo conseguiu acertar ele também”, relatou.
“Fazia algum tempo que a gente vinha conversando sobre não se expor muito, pelo medo da agressão. Eu observo que a gente que tem uma ideologia de esquerda, quando está em público, dependendo do local, não pode se expor muito. Só que dessa vez a nossa opção político-partidária estava representada numa decoração de festa, porque a gente decorou com algumas coisas do PT. Achava que tinha o direito de fazer uma festa com o tema que a gente quisesse. Mas a gente não tem. Eu aprendi isso com a pior dor da minha vida. Democracia zero”, lamentou a viúva.
Marcelo Arruda era guarda municipal há 28 anos em Foz do Iguaçu, sindicalista e também filiado ao PT. Ele chegou a disputar o cargo de vice-prefeito nas eleições passadas e era considerado uma pessoa alegre e tranquila. Ele deixou quatro filhos, inclusive um bebê com pouco mais de um mês de idade.
SOBREVIVEU
O assassino do guarda municipal também é servidor na área da Segurança Pública. José Guaranho é policial penal federal e costumava usar as redes sociais para disseminar mensagens de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Na internet circulam fotos dele com um dos filhos do presidente, o senador Eduardo Bolsonaro.
As imagens do ataque registradas por uma câmera de vigilância mostram que ele invadiu o local da festa atirando. Depois de atingir o guarda municipal ele se aproxima para tentar executá-lo com um tiro na cabeça, mas é impedido por uma mulher. Nesse momento, Marcelo, já ferido e caído ao chão, consegue sacar a pistola e faz vários disparos que atinge m o assassino. Guaranho ainda tenta fugir, mas cai logo depois.
Inicialmente foi dito que o assassino também teria morrido no local, mas a informação foi corrigida hoje em nota divulgada pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná.
“Guaranho segue internado em estado grave. Imagens estão sendo analisadas e testemunhas sendo ouvidas. A Polícia Científica está atuando no procedimento pericial que auxiliará para que os fatos sejam esclarecidos e o Inquérito Policial relatado e encaminhado à Justiça", diz a nota.
A polícia também afirma que já foi expedida ordem de prisão em flagrante contra Guaranho, que poderá ser detido assim que tiver alta médica.
Da Redação (com informações do UOL e Metrópoles)