Elevação de preços e a escassez de fertilizantes no mercado

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O cenário agrícola atual diante da acentuada elevação dos preços de fertilizantes traz grande preocupação para o agricultor brasileiro. A elevação dos custos dos fertilizantes implica diretamente no aumento do custo de produção, reduz a margem de lucro do agricultor e aumenta os riscos da atividade agrícola. Toda essa situação pode desincentivar a atividade agrícola e resultar na redução da produção de alimentos futuramente.

De acordo com dados governamentais, atualmente, o Brasil ocupa a 4ª posição mundial com cerca de 8% do consumo mundial de fertilizantes, sendo o potássio (K) o principal nutriente utilizado pelos produtores nacionais (38%). Em seguida, aparecem o fósforo (P) com 33% do consumo total de fertilizantes e o nitrogênio (N), com 29%. Dentre as culturas que mais demandam o uso de fertilizantes estão a soja, o milho e a cana-de-açúcar, somando mais de 73% do consumo nacional. Sendo que, mais de 85% dos fertilizantes utilizados no país são importados, escancarando um elevado nível de dependência de importações em um mercado dominado por poucos fornecedores. Essa dependência crescente deixa a economia brasileira, fortemente apoiada no agronegócio, vulnerável às oscilações do mercado internacional de fertilizantes.

De acordo com informações da Agroinvest, apresentadas no XXII Encontro Técnico de Soja promovido pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Mato Grosso (Fundação MT) ocorrido em Cuiabá em abril deste ano, os principais fatores que contribuem com a escalada de preços dos fertilizantes atualmente são: i) a elevada demanda do mercado por fertilizantes, inclusive do Brasil, devido a valorização das commodities (soja, milho, fibras, etc.); ii) restrição da oferta de fertilizantes no mercado anunciados pela Rússia e China, antes mesmo do início da guerra entre Rússia e Ucrânia visando a redução dos custos de produção desse insumo. China e Rússia são países grandes exportadores e produtores de fertilizantes em nível global, respectivamente; iii) elevação do preço do gás natural devido à crise vivida na Europa. O gás natural é um insumo importante, fundamental para a produção de fertilizantes nitrogenados e alguns fosfatados; e, iv) guerra Rússia x Ucrânia, episódio que agrava ainda mais a problemática da alta dos preços dos fertilizantes, uma vez que a Rússia é um dos maiores produtores mundiais de fosfatados, largamente utilizados na agricultura, inclusive a brasileira. Soma-se a isto, as dificuldades enfrentadas pelo transporte oriundo da região de influencia da guerra entre esses dois países.

Contudo, mesmo com as adversidades encontradas diante da elevação dos preços e a escassez dos fertilizantes no mercado na conjuntura econômico/político atual, as perspectivas são animadoras. Uma pesquisa realizada pela Fundação MT durante o XXII Encontro Técnico de Soja aponta que 72% dos agricultores que responderam às perguntas pretendem aumentar a área cultivada com soja na safra 2022/2023. Por outro lado, seguindo as expectativas do mercado, a pesquisa também mostrou que haverá redução no uso de fertilizantes na cultura para 64% dos participantes que responderam o questionário.

Como o problema está sendo enfrentado

Pensando em medidas a curto prazo, os agricultores tem buscado novos fornecedores de fertilizantes fora da região de conflito bélico entre Rússia e Ucrânia como Canadá, Marrocos e Israel, por exemplo. Uma segunda saída diz respeito a redução na aplicação de fertilizantes no solo. Esse é um ponto bastante complexo e deve envolver muita informação e conhecimento agronômico para tomadas de decisão assertivas. Nesse contexto, a Fundação MT se coloca ao lado do agricultor para ajudá-lo na melhor decisão oferecendo serviços de pesquisa e consultoria e incentiva-o a procurar um bom Engenheiro Agrônomo para estar bem amparado.

Dentre as informações que são primordiais para que o agricultor junto ao seu profissional possa recomendar a redução da adubação da lavoura estão: histórico de uso do solo, registro das análises de solo realizadas ao longo do tempo, textura do solo, nível de fertilidade do solo, histórico de variáveis climáticas e produtividade das culturas ao longo dos anos. Seguindo esses parâmetros, um solo com níveis dos principais nutrientes classificados nas categorias alto e muito alto, ausência de camada restritiva ao crescimento radicular, ausência de alumínio trocável e estabilidade produtiva em bons patamares, permite a economia na adubação, principalmente de elementos como fósforo (P) e potássio (K) devido a reserva desses nutrientes no solo. No entanto, não se recomenda a redução total desses elementos numa ou mais safras consecutivas, uma vez que o agricultor poderá ficar em situação de grande vulnerabilidade no futuro, devido ao esgotamento desses nutrientes no solo, o que resulta na redução drástica de produtividade. Para evitar problemas futuros, recomenda-se a redução parcial de P e K diante do cenário atual e, sempre que possível é recomendável que o agricultor faça uso de tecnologias que favoreçam o aumento da eficiência de uso dos fertilizantes como a aplicação localizada do mesmo junto a linha de cultivo, utilização de equipamentos calibrados visando uma adequada distribuição do adubo na área de cultivo, adote sistemas de produção mais sustentáveis que proporcionam a ciclagem de nutrientes, entre outras práticas agronômicas.

Visando medidas de longo prazo para solucionar os problemas relacionados a importação de fertilizantes pelo Brasil, o governo federal criou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), considerado uma referência para o planejamento do setor de fertilizantes para os próximos 28 anos (até 2050), promovendo o desenvolvimento do agronegócio nacional e considerando a complexidade do setor, com foco nos principais elos da cadeia: indústria tradicional, produtores rurais, cadeias emergentes, novas tecnologias, uso de insumos minerais, inovação e sustentabilidade ambiental. Em suma, o PNF tem como objetivo principal adequar o equilíbrio entre a produção nacional e a importação. Pretende-se diminuir a dependência de importações, em 2050, de 85% para 45%, mesmo que dobre a demanda por fertilizantes no pais.

 

(Equipe: Dr. Bruno de Conti e MSc. Felipe Bertol)