Tudo que começa tem um fim. Enfim, nasce, cresce, floresce, envelhece e morre. Esta é uma lei natural aplicável a tudo que existe na face da terra. E certo, também, que “na natureza nada se cria, nada se perde e tudo se transforma” (Lei de Lavosier).
Então a continuidade se dá apenas por uma mutação química que transforma as coisas e em outras. Dentro desta ótica podemos dizer que a eternidade existe para tudo que aparece na face da terra. Por que tu és pó e ao pó voltarás – Genesis 3:19, o que é uma sentença do Criador de manifesta transformação.
Estou fazendo esta digressão a propósito de uma conversa que tive com uma querida amiga a respeito da vida e da morte. Eu disse para ela que um dia partiremos, pois somos vida e ela fenece.
Como não sou religioso as minhas esperanças por outra vida em outro plano são escassas ou inexistem. Acho que a vida nos dá a função de prossegui-la em nossos filhos que serão a nossa continuidade enquanto isto aqui existir.
Tudo que fizermos como pessoa, com filhos e com pais, amigos e até desconhecidos não passa de uma obrigação que a dimensão humana impõe e que temos que cumprir da melhor forma possível, sem vistas a qualquer retorno, pois não existirá recompensas.
Se os amigos ou filhos são ingratos não podemos nos aborrecer por isto. Aos ingratos cabe a vida lhes dá o retorno, pois eles vão ter amigos e filhos que lhes darão a retribuição que merecem.
É preciso cultivar a sabedoria. Resigne-se, às vezes, algum coisa ruim que acontece é para evitar outra pior. Quantas vezes não se tropeça antes como aviso de que na frente tem um abismo. Ensinava a minha mãe que quando a dor é pouca revolta e quando é muita acalma. Não reclame, pois se a dor ou carga forem insuficientes para o aprendizado elas podem ser aumentadas a nossa revelia.
Não podemos ficar guardando ressentimentos, pois estes só fazem mal a quem os têm. As doenças psicossomáticas são a resposta do nosso corpo para as nossas agruras mal resolvidas. A vida é uma grande escola para ensinar quem não saber viver.
Viver é uma arte que não vem com manual e cabe a cada um aprender a duras penas. Antigamente ainda se ouvia os mais velhos e hoje nem isto se faz, então ficou mais difícil aprender a viver. Sempre temos que decidir e nem sempre acertamos. E, na maioria das vezes, o caminho que seguimos foi uma opção sem volta. Entretanto, batendo a cabeça pra lá e pra, com um pouco de discernimento, se vai aprendendo a sofrer menos e tocar a vida em frente.
Entretanto, no futuro teremos um acerto de contas conosco mesmos, pois é preciso restabelecer o equilíbrio e a harmonia do mundo. Os nossos erros e nossas culpas cobram muito caro, nos acertos conosco antes de partir.
Diz o poeta “haverá um dia em hás de encontrar consigo será o pior dos seus dias ou seu momento maior”. Como não se vive sem errar temos, em algum momento, que purgar por eles e nos perdoar, assim como a todos que nos fizeram algum mal, antes de abandonar este vale de lágrimas.
Eu não sou um pessimista com a vida, pois ela me deu mais do que eu merecia, mas não voltaria um passo atrás da caminhada. Daqui só para frente, pois já contemplo o fim e tenho procurado acertar as minhas contas com as pessoas e, sobretudo comigo mesmo. Irei certamente, sem mágoas e ressentimentos. Quero ir em paz e sem homenagens póstumas que não servem para nada.
Voltarei tranquilamente ao pó, pois dei a ordem para os meus familiares que os meus restos sejam queimados e jogadas as cinzas fora. E meu último desejo: me esqueçam. Sigam em frente!
Renato Gomes Nery é advogado.