Ladrões de banco transformaram Mato Grosso em “novo cangaço”

Fronteira com a Bolívia, dimensões continentais, aparato de segurança antigo, com reduzido número de policiais e ainda equipamentos pouco adequados atraram para Mato Grosso centenas de marginais e criminosos. A facilidade com que tinham para invadir bancos foi tamanha que os bandidos passaram a agir como o tal. Entre as inspirações nos filmes americanos de faroeste e as facetas de Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, esses criminosos transformaram Mato Grosso em “novo cangaço” na definição do delegado Luciano Inácio da Silva, chefe da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da Polícia Civil.
Em Campo Novo, num dos ultimos “assaltos espetaculares”, os bandidos tentaram colocar fogo na agência. Além de danificar o sistema de segurança interno – câmeras que registram imagens – os bandidos queriam barbarizar. Eles fizeram um “escudo humano” com clientes do banco em frente a agência. Depois fugiram em duas caminhonetes. Um dos veículos, uma S-10 preta sem placas, foi incendiado 18 quilômetros à frente.
Em Mato Grosso, a Polícia Civil registrou 25 roubos do tipo “novo cangaço”, desde o ano de 1998. Esse “novo cangaço” é definido pela forma como as quadrilhas passaram a agir, ou seja, com extrema violência contra clientes e funcionários das agência, muitos feitos reféns para fugas espetaculares. A tal ponto de que cidades do interior passaram a conviver com o medo constante de serem o próximo alvo. Nessa nova forma, os bandidos desafiam a Polícia.
Na última semana, a Polícia Civil desarticulou uma quadrilha estabelecida na Grande Cuiabá, responsável por pelo menos três assaltos em agências do interior. Dez integrantes foram presos na operação “Lacraia”.
Mas ainda tem gente solta. Muita gente! Atualmente 68 pessoas são investigadas pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO). Dos indiciados, 57 pessoas foram presas e outras estão com ordem de prisão decretada. A Polícia garante que a prisão dessa última quadrilha é apenas o começo. As investigações vão continuar a pleno vapor.
“O que eles têm de vantagem é o que há de mais precioso, a vida de pessoas. Então fica difícil combater naquele momento” – analisa o delegado Luciano Inácio da Silva, um dos responsáveis pelas investigações.
Na Região Centro-Oeste, o modelo criminoso foi inaugurado por Antônio Ricarte Viana que, em razão de seu “modus operandi” era chamado de Virgulino. Ele atuou muito ao lado do comparsa Rubens Ramalho da Silva. A sua quadrilha foi responsável pelas ações vistas em Rondonópolis (1998) e Sinop (2000). Ricarte foi morto pela polícia do Pará e Ramalho ainda está na ativa.
No Estado de Mato Grosso, o primeiro registro aconteceu em Rondonópolis, no dia 8 de junho de 1998, quando um uma professora foi baleada há mais de mil metros e morreu em consequência dos tiros. No período de 12 anos, três policiais militares morreram no enfrentamento e um delegado foi atingindo com um tiro de fuzil na perna.
Em 2010, de acordo com dados do Governo, 18 agências bancárias sofreram ataques de quadrilhas, sendo 17 roubos e um furto registrados nos doze meses do ano. Cinco roubos foram praticados dentro do “novo cangaço”, todas agências do Banco do Brasil. São elas: Canarana, em 5 de janeiro de 2001; Aripuanã em 3 de março de 2010, Nova Mutum em 2 de julho passado, Campo Novo do Parecis, em 2 de dezembro e Denise, cinco dias depois, dia 7.