Na troca de ataques mais dura nos debates destas eleições presidenciais, a líder nas pesquisas de intenção de voto, Dilma Rousseff (PT), e seu principal adversário, José Serra (PSDB) ganharam direito de resposta um contra o outro no evento Folha/RedeTV! que reuniu os principais candidatos ao Palácio do Planalto neste domingo (12).
No terceiro bloco do debate, a petista ganhou direito de resposta para rebater acusações de Serra, que ligou a campanha petista à quebra de sigilo fiscal de sua filha, Verônica, na Receita Federal. No entanto, no fim da argumentação, Dilma chamou o tucano de “caluniador” e deu a seu rival o mesmo direito que conseguiu.
“Ele quer ganhar essa campanha no tapetão porque não consegue convencer o povo brasileiro”, disse a petista, em referência a uma ação do PSDB no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para impugnar sua candidatura. “Ele quer virar a mesa da democracia. E quer com divulgação de crime por fato inverídico”, afirmou.
No fim da resposta, a petista atacou: “Não passarei esta eleição como a caluniadora. Ele é que passará”. Serra pediu direito de resposta, conseguiu em seguida e enumerou escândalos ligados ao governo federal nos últimos anos. E ironizou a petista por ter o apoio do ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu. “Essas questões que envolvem a democracia não se resolvem com braveza”, disse. “Agora você vai pedir direito de resposta por isso [dizer que tem apoio de Dirceu]?”
Mais tarde, o tucano voltou a se referir à discussão com Dilma. “As pessoas sabem que eu não sou nem caluniador nem evasivo. Minha vida pública é bem conhecida. No seu caso, realmente não dá para dizer. Não dá para saber se você é ou não caluniadora ou se é ou não evasiva”, afinetou.
Mais tarde, depois de questionada por Serra, Dilma voltou ao ataque: “As pessoas não podem ser pretensiosas e acharem que são a dona da verdade. Espero que as pessoas que me cercam também não sejam. Lamento a tentativa sistemática do meu adversário de me desqualificar”, disse. “Não subestime ninguém, candidato. O senhor não é dono da verdade. O senhor não é melhor do que ninguém.”
Depois da discussão tensa, houve um alívio no clima depois de Dilma questionar o candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, sobre a construção de plataformas da Petrobras no exterior. “Isso aí é pegadinha”, disse o socialista, em meio a risos da platéia. “Eu não sei. Não sei mesmo. Não sou obrigado a saber. Estou aqui para falar das grandes questões”
Quebra de sigilo e Erenice Guerra
Ainda no segundo bloco, Serra foi questionado por não ter reclamado da quebra de sigilo de sua filha e de seu genro na Receita Federal de Mauá quando teve indícios, em 2009, e deixou para tocar no assunto agora quando aparece atrás nas pesquisas. "Eu suspeitava disso, mas não tinha provas. Não cabe a mim colocar rumores. No momento em que apareceu, quebraram a intimidade da minha filha, do meu genro", disse.
E completou, irônico: "O que que eu deveria fazer? Agradecer a campanha da Dilma? [Agradecer] ao PT? A gente viu que são militantes petistas", disse o tucano, atribuindo a autoria do suposto dossiê contra ele e da quebra de sigilo a Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, candidato do PT-MG ao Senado e um dos coordenadores da campanha de Dilma.
Além da quebra de sigilo na Receita Federal, outro escândalo apareceu no debate, nas perguntas de jornalistas a Dilma: o suposto lobby do filho de Erenice Guerra, sucessora da petista na Casa Civil, junto a empresas interessadas em obter contratos com o governo federal. A revista "Veja" divulgou que a própria Erenice teria participado de algumas conversas nesse sentido.
Dilma afirmou que tem a “maior e melhor impressão da ministra Erenice”. Segundo a candidata petista, “o que se tem publicado nos jornais é uma acusação contra o filho da ministra. Se houve [tráfico de influência] tem de se tomar as medidas cabíveis”.
"Eu não concordo, não vou aceitar, que se julgue a minha pessoa com o que aconteceu com o filho de uma assessora minha. Isso cheira a manobra eleitoreira, sistematicamente feita contra mim e contra a minha campanha”, disse.
Pelas regras do debate, os candidatos só poderiam dirigir perguntas uns aos outros por duas vezes. Eles também eram questionados por jornalistas. Nos primeiros blocos, Dilma, líder nas pesquisas de intenção de voto, recebeu mais críticas dos rivais. Serra foi o mais duro, logo no início, ao responder sobre qual seria o maior sucesso e o maior fracasso do governo Lula.
“O maior sucesso da gestão atual foi não atirar o Plano Real pela janela, como eles anunciaram que fariam e não fizeram. O maior fracasso foi o mensalão, o dossiê dos aloprados, essas violações da Receita”, disse o tucano, que mais tarde voltou a alfinetar o Palácio do Planalto e Dilma por conta do vazamento de dados sigilosos de sua filha e seu genro. “Isso é assunto do governo, que acoberta os companheiros e persegue a oposição. A democracia do PT, da Dilma, deles, tem essa visão”, completou.
Marina, por sua vez, ironizou Dilma ao ser questionada sobre como fazer para o Brasil crescer mais. “É a primeira vez que vejo a ministra Dilma citar a minha passagem pelo governo”, disse. “Avançamos na economia, avançamos no social, mas na política recuamos”, afirmou a candidata do PV, referindo-se a escândalos ligados ao governo nos últimos anos.
O candidato do PSOL também criticou a petista, embora em tom menos forte do que nos encontros presidenciais aos quais a ex-ministra faltou.
“Não sei em que país vive a Dilma. O maior sucesso do governo Lula é ter tido popularidade em um país onde 35% das pessoas passam fome. Essa população acredita no Lula porque recebe uma Bolsa Família, que é para hoje. E o amanhã? A Dilma já anunciou aí, já deu toques de que vai reduzir gastos”, afirmou, em referência a notícias de bastidores sobre um ajuste fiscal em um eventual governo da petista.
A petista tentou esfriar a discussão na maior parte do tempo – exceto pela troca de acusações com Serra no terceiro bloco. A candidata até brincou pela primeira vez em um dos três debates dos quais participou, depois de Plínio admitir que não sabia responder sobre a importância de construir plataformas da Petrobras no Brasil, e não no exterior. "Eu achei que ia levantar a bola para você", comentou ela, olhando para o rival, e não diretamente para as câmaras, como se esforçou para fazer nos encontros anteriores.
Fonte:Uol elrições