O jornalista alemão Jürgen Schmieder, 31 anos, resolveu irrestritamente aderir ao desafio de ficar 40 dias sem mentir para a produção de uma reportagem especial para uma editoria especializada do jornal que trabalhava. O que ele notou? Aquilo que parece quase óbvio para a maioria da humanidade: é preciso mentir. Com o pouco mais de um mês que o jornalista teimou em só falar integralmente a verdade, sem anunciar a todos que estava em meio a esta fatídica quaresma, ele quase perdeu a mulher ao dizer que ela estava gorda quando questionado pela companheira sobre sua forma física em meio a troca de roupa, se afastou do melhor amigo quando disse à sua mulher que ela já havia sido traída e só não perdeu o emprego porque a alta cúpula do veículo de comunicação sabia do motivo da sinceridade absoluta. No último dia 1º de abril, o Dia da Mentira, muita gente deveria comemorar o quanto já conseguiu ascender na vida em virtude de faltar com a verdade para abrir caminhos. O bom mentiroso inegavelmente hoje em dia consegue atrair mais olhares e conquistar mais ouvidos quando adocica o ego do receptor de suas palavras com a criação de um mundo inexistente. A mentira, por mais incrível que seja, exercita muito mais partes do cérebro do que a verdade. O verdadeiro apenas retransmite, ou seja, narra aquilo que viu ou ouviu. Já aquele que inventa uma história aciona a imaginação, exercita a oratória e capacidade de persuasão, aciona a memória para usar de comparações com outros fatos para embasar seu conto e muitas vezes, em níveis mais elevados, consegue interpretar a inverdade sendo capaz, por exemplo, de derramar as famosas ‘lágrimas de crocodilo’. Quantos dos nossos políticos brasileiros hoje estariam com mandato se quando tivesse um microfone em sua boca ou no encontro com a população dissessem realmente quais suas prioridades ao ingressar no poder público? Quantos casais estariam ainda juntos hoje se quando o marido chegasse atrasado do trabalho e a mulher perguntasse onde ele estava o mesmo dissesse a mais pura e cristalina verdade? Os heróis do passado ainda seriam heróis se não soubessem mentir? O que seriam dos estelionatários e dos charlatões que movimentam o mundo dos negócios? A mentira é talvez o mecanismo de ganhar tempo e sobressair sobre o ‘adversário’ mais antigo que se tenha notícia na história humana. Povos primitivos já mentiam com ações ao caçar para ludibriar a caça e surpreendê-la em momento oportuno. Sobre o primeiro de abril em si, a tradição surgiu na França, no reinado de Carlos IX (1560-1574). O ano novo, até então, era comemorado em 25 de março, com a chegada da primavera. As festas duravam uma semana, terminando em 1º de abril. Em 1562, porém, o papa Gregório XIII (1502-1585) instituiu o chamado calendário gregoriano, qual conhecemos e nos norteamos até hoje. O rei francês seguiu o decreto, mas alguns conservadores teimavam em seguir comemorando no 1º de abril, o que fez a data ser marcada inicialmente como o dia dos tolos e mais para frente evoluindo até chegar a ser o dia da inexistência, ou literalmente o Dia da Mentira. No Brasil, a data começou a ser lembrada depois da criação do periódico ‘A Mentira’, em Minas Gerais, que foi publicado pela primeira vez em 1º de Abril de 1828 causando uma celeuma popular ao noticiar a morte do então imperador Dom Pedro I, desmentindo o mesmo fato no dia seguinte. Um estudo surgido em uma universidade americana renomada certa vez disse que nenhum ser humano vive sem mentir, independente do tamanho e importância do fato distorcido, em 200 oportunidades por dia. O levantamento técnico causou muitas discussões, novas teorias e certamente um monte de outras mentiras surgidas a partir dele. Independente de qualquer análise psicológica e psiquiátrica, ou de qualquer outro ponto de vista científico, fato verídico e confirmado por cada um que já foi seriamente afetado em algum momento pela mentira é que fofocas e inverdades vem e vão a todo momento entre as relações humanas, mas quando quem se vai é a confiança o caminho de volta é quase impossível.