Defensores da criação do estado de Carajás querem “progresso”

“É um absurdo o atraso em que a população vive. Não temos asfalto, a situação dos hospitais é ruim. O governo simplesmente não vê o que acontece nas ruas. Só com políticos fortes, atuando mais próximo da gente, é que poderemos conseguir melhorar a região. Aqui tem riquezas, mas não se desenvolve nunca”. A opinião é do cearense Jai de Sá Crato, comerciante que há 20 anos se mudou para Marabá, mas reflete o que pensam muitos moradores da cidade entrevistados pelo G1, que percorreu o Pará por dez dias para ouvir a opinião do povo sobre o plebiscito que vai decidir se o Pará deve ser dividido.
Marabá é cotada para ser a futura capital de Carajás, caso a divisão do estado seja aprovada em plebiscito em 11 de dezembro. Em um possível cenário de divisão do Pará, o futuro estado de Carajás será composto por 39 municípios; o estado de Tapajós, 27 municípios, e Santarém como capital; e o novo Pará, 77 municípios, e Belém continuaria sendo a capital.
Nas ruas é difícil encontrar alguém que nasceu em Marabá. A maioria é procedente do Piauí, Tocantins e Goiás e se mudou para a região do Carajás em busca de trabalho, sonhando com as oportunidades que poderia ter em uma terra rica em minérios e considerada um dos maiores pólos de ferro do mundo.
“Vim do Piauí para cá há 29 anos e a situação, até hoje, não mudou nada. A rua não tem calçamento, o esgoto está correndo aqui do lado. E todo dia matam alguém. A gente já está até acostumado”, desabafa a comerciante Leocides Carneiro da Silva, que mora no bairro da Liberdade.
“Sou a favor de Carajás. Eu e minha família vamos todos votar no ‘sim’. Queremos que o progresso chegue nesta região. Não é possível que todo o dinheiro que tiramos desta terra vá para a capital”, diz Maria Madalena Filha, de 37 anos, que também reclama da falta de policiamento no Paraíso, onde vive.
Os eleitores do Pará irão à urnas para responder “sim” ou “não” a duas perguntas: “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Carajás?” e “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Tapajós?”.
Outra preocupação da população é em relação à questão da saúde. No centro de atendimento do bairro Liberdade, considerado um dos mais violentos pela população de Marabá, a doméstica Daniella da Silva David aguardava em uma enorme fila por uma consulta médica para filho, David, de apenas 2 meses. A criança estava com problemas intenstinais e não conseguia urinar.
“Cheguei cedo, porque o posto sempre enche na segunda-feira. Estou esperando para uma consulta com a enfermeira Socorro. Aqui não tem médico nem pediatra para atender crianças. É a própria enfermeira que dá a consulta e passa a receita médica com os remédios tem que comprar”, diz Daniella
Funcionários do centro de saúde confirmaram ao G1 que uma enfermeira realiza consultas e prescreve receitas e disseram que não havia pediatras na unidade. A Prefeitura de Marabá diz que “contratou, por meio de concurso público, médicos e demais profissionais da saúde para melhorar o atendimento à população”, mas, que “reconhece que tem muito a ser feito” ainda.
No acampamento de assentados de movimentos rurais Helenira Resende, às margens da BR-155, lideranças se reuniram para decidir apoiar o desmembramento do estado, diz Vicente Rodrigues do Aguiar, um dos porta-vozes do acampamento.