Oficialmente a base de sustentação do governo no congresso anda pela casa dos 80%, segundo o que diz o PT e até mesmo o próprio governo. Com tamanho poder de força é de se supor que a Planalto não tenha a menor dificuldade em aprovar as propostas que manda ao legislativo.
Entretanto não é essa a realidade que vem acontecendo. Na última terça-feira (11), enquanto a presidente Dilma estava no Chile para a posse da presidente Michelle Bachelet, em seu 2º mandato, questionada pelos jornalistas sobre os desentendimentos entre os dois principais partidos de sua sustentação disse que "o PMDB só lhe dá alegrias". Ao mesmo tempo, na Câmara, o mesmo PMDB dava quórum suficiente para o convite à presidente da Petróbras para dar explicações sobre denúncias de propinas pagas a altos funcionários da estatal por conta da locação de plataformas para a exploração de petróleo, por uma empresa holandesa. Convite esse de total desagrado por parte do governo. Na semana anterior já havia sido aprovada, também com a participação do PMDB, uma comissão externa para acompanhar na Holanda uma investigação feita pela própria empresa. Segundo um ex-funcionário da empresa holandesa propinas foram pagas a diversos países onde a empresa atua, inclusive ao Brasil.
A presidente da Petrobras foi convidada e não convocada por se tratar da presidente de uma estatal, sobre a qual a câmara não tem poder de convocação. Foram também, convocados quatro ministros a dar explicações sobre assuntos pertinentes aos seus ministérios envolvendo até denúncias de corrupção.
A gravidade da situação atual levou a presidente Dilma a convocar no último fim de semana, no palácio, para uma reunião a portas fechadas o vice Michel Temer, presidente licenciado do PMDB e o ex-presidente Lula, presidente de honra do PT com a finalidade de discutir as desavenças entre os dois partidos.
O lider do PMDB na câmara, deputado Eduardo Cunha vem capitaneando um movimento de dissidência entre os membros do seu partido, descontentes com a reforma ministerial que vem sendo conduzida pala presidência, ignorando o PMDB. Agregam-se a esse movimento outros partidos da minoria, descontentes com a forma como a presidente conduz os destinos da nação, movimento esse que foi alcunhado de "BLOCÂO" e que pode fazer toda a diferença nas eleições de outubro
Presidente e PT têm razão de se preocupar, com vistas às eleições. O vice-presidente já assegurou o apoio do seu partido à reeleição da presidente, mas só a convenção poderá dar garantias desse apoio. Não será de estranhar se em sua convenção o PMBB venha a apresentar candidato próprio. Nomes não lhe faltam. Afinal é o maior partido e o seu último presidente foi José Sarney, mesmo assim eleito de forma indireta como vice de Tancredo.
Há um descontentamento generalizado de algumas classe sociais com a maneira autoritária de governo da Presidente Dilma, aí compreendida a classe empresarial que se queixa de falta de diálogo do governo com os empresários, ponto esse que já mereceu comentários do próprio ex-presidente Lula.
Aliás não é de hoje que as discordâncias entre os poderes Executivo e Legislativo vêm acontecendo. Assim aconteceu no ano passado com o código florestal passando pelos royalties do petróleo, pela política relativa aos portos e com a regulamentação da lei dos empregados (as) domésticos(as) que ao invés de o fazer por uma medida provisória tal como havia preconizado, o governo deixou o congresso decidir por si só. E agora se delineia mais uma distorção entre ambas as posições. Mais uma vez interesses não bem claros estão em jogo na casa de leis, apontando para um viés de falta de sintonia com o Planalto.
Efetivamente, o congresso está dominado por uma política fisiologista e por um evidente descompromisso com uma garantia de governabilidade, a não ser que ceda o governo aos interesses nem sempre confessáveis de algumas siglas, incompatíveis com os verdadeiros princípios da decência exigida por uma democracia que se preze e que seja ciosa das suas responsabilidades para com os interesses da nação.
O governo teme um racha do Partidão que pesaria na balança contra a candidatura da presidente à reeleição.Por outro lado a oposição vem tecendo alianças para as candidaturas de Aécio Neves e Eduardo Campos, até indiretamente estimulando partidos menores a lançar suas próprias candidaturas, como aconteceu com PSOL que lançou a pre-candidatura do senador Randolf Rodrigues. O interesse maior é de diminuir o tempo de televisão da presidente. Aécio e Campos caminham de mãos dadas, já acertados que em um segundo turno que se prevê inevitável, um apoiará o outro, prevalecendo o nome que somar mais votos.
J.V Rodrigues
"ao Brasil impõe-se um choque de gestão"