A Polícia Federal prendeu ontem em flagrante, em 9 Estados e no Distrito Federal, 21 pessoas acusadas de abuso sexual de crianças, exploração pornográfica e difusão de pedofilia na internet. Segundo a PF e a Interpol, foi a maior operação já feita no mundo. Entre as vítimas de abusos sexuais registrados nas imagens apreendidas há meninos e meninas de todas as idades, incluindo bebês de 6 meses.
O número de prisões feitas pela Operação Tapete Persa é recorde no País em operações do gênero. Houve o apoio internacional de cerca de 30 países para identificar os usuários de pornografia infantil. Segundo a PF, a pedofilia está se alastrando e se tornando cada vez mais chocante em todo o território nacional. Entre os presos, há adultos de diversas profissões e classes sociais, incluindo quatro idosos com mais de 60 anos, um coronel da PM (cujo Estado não foi divulgado) e até um menor de idade, encaminhado a uma instituição tutelar.
As ações, que se prolongaram até o início da noite de ontem, alcançaram 54 cidades, nas quais foram cumpridos 81 mandados de busca e apreensão de computadores, DVDs e mídias diversas contendo pornografia infantil. Mais da metade das prisões e um terço das buscas foram cumpridas em São Paulo e em 14 cidades do interior paulista. Os demais Estados alcançados pela operação foram Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas, Goiás, Ceará e Alagoas, além de Brasília.
Produção. Entre os presos em flagrante com a posse de material pornográfico, cerca de 30% são também molestadores de menores e foram indiciados pela produção de imagens, fotos e vídeos de crianças abusadas. Em pelo menos um caso, as imagens apreendidas foram produzidas no próprio endereço da busca.
Há casos em que o pedófilo usou enteados, filhos de vizinhos e até parentes na produção das imagens pornográficas. Em alguns endereços devassados, a polícia apreendeu armas e drogas. Por causa da complexidade do rastreamento, só metade dos computadores apreendidos foi devidamente devassada.
Na continuidade da investigação, outras prisões podem ocorrer. Alguns alvos não estavam em casa no momento da busca e devem ter mandado de prisão decretado pela Justiça nos próximos dias. As identidades dos presos e das vítimas não foram reveladas pela polícia.
15 anos de prisão. Para os casos mais graves – de pedófilos que também abusam de crianças e produzem imagens pornográficas para distribuição na rede – a PF vai pedir que a prisão provisória dure o tempo que for necessário à investigação, de preferência até o julgamento dos criminosos.
Os presos serão enquadrados em vários artigos do Código de Processo Penal (CPP) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os casos mais graves estão sujeitos a penas cumulativas de até 15 anos de reclusão. Os tipos criminais já confirmados são: estupro de vulnerável, exploração sexual e produção, armazenamento e divulgação de pornografia infantil pela internet.
PARA ENTENDER
781 usuários integravam rede mundial
Conforme a Interpol, o Brasil é o quarto no ranking mundial de divulgação de pedofilia – atrás de Alemanha, Espanha e Inglaterra. A maior operação antipedofilia já feita no País começou na Alemanha, em 17 de abril do ano passado, com o desmantelamento de uma rede internacional envolvida com pedofilia na rede mundial de computadores. Os usuários do Brasil estavam no topo da lista.
Naquela época, a Agência Estadual de Investigações Criminais de Baden-Württenberg identificou 781 registros de usuários com origem no Brasil. Os criminosos eram monitorados desde 2008. Coube ao Escritório Federal Criminal enviar aos provedores uma lista de sites sabidamente fontes de material pornográfico envolvendo menores de idade, para que eles pudessem ser bloqueados. Essa rede envolvia 91 países. Nas operações policiais, foram confiscados mais de 500 computadores e outros 800 dispositivos de armazenamento.
Como denunciar
Por telefone, pelo Disque 100 (serviço do governo federal).
Pela internet, acesse http://www.safernet.org.br/site/ (a ONG ainda conta com uma cartilha de segurança online).
A REDE
Produção
Os vídeos eram produzidos por pessoas em diversos países, entre eles Alemanha e Brasil
Distribuição
Os arquivos eram transferidos por redes de compartilhamento
Investigação
A polícia alemã detectou a distribuição e comunicou à Interpol
Fonte:O Estado de S. Paulo (crédito foto Vanildo Mendes)