Após salvar o governo de um fracasso inédito e aprovar a medida provisória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que estruturou os ministérios, a Câmara dos Deputados deixou claro ao chefe do Executivo que a articulação política do Palácio do Planalto com o parlamento não está boa e que ele precisa promover mudanças para não comprometer a governabilidade.
Por mais que a Câmara tenha passado a MP com uma boa margem de votos favoráveis, o resultado ficou longe de ser uma vitória para o governo, mas sim um alerta de que o Executivo precisa manter um bom relacionamento com os parlamentares para ter sucesso nas matérias de interesse. A votação expressiva mostrou, na verdade, a força do bloco liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A principal insatisfação dos deputados é com o diálogo mantido com os ministros que fazem a ponte da Câmara com Lula, como Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil). Uma das queixas é de que a equipe do presidente tem falhado em ouvir os pedidos dos parlamentares para que eles entreguem os votos que o governo precisa em votações importantes.
A reclamação é de que há demora na liberação de emendas para que os deputados apliquem em projetos nas suas bases eleitorais. Antes de a Câmara votar a medida provisória na quarta-feira (31), o governo tinha autorizado o uso de cerca de R$ 3,2 bilhões desde janeiro. Sob pressão e com risco de ter uma drástica redução na quantidade de pastas em caso de rejeição da MP, o governo decidiu liberar mais R$ 1,7 bilhão à Câmara no dia da votação, mais da metade do que tinha sido distribuído até então.
O valor é inferior na comparação com 2022, quando R$ 11,7 bilhões foram disponibilizados aos parlamentares nos cinco primeiros meses do ano passado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Também pesa para o descontentamento dos deputados com o governo a falta de espaço dentro das estruturas do Executivo. Por mais que Lula tenha acomodado nove partidos em ministérios, nem todas as legendas estão sendo fiéis ao presidente nas votações da Câmara, sobretudo o União Brasil. Dessa forma, ele tem sido cobrado a trocar a equipe ministerial para dar espaço a outros grupos.
Lira admitiu o incômodo com as falhas do governo e disse que a MP só não foi rejeitada porque a Câmara deu um último voto de confiança ao presidente. “A Câmara, os líderes de partidos independentes, que não estão na base, reconheceram a necessidade de dar mais uma oportunidade para o governo. Portanto, nós estamos longe ainda de estarmos comemorando uma base, como alguns tentam passar”, afirmou ele após a aprovação da MP.
“Daqui para frente, o governo tem que andar com suas próprias pernas e não haverá nenhum tipo de sacrifício dos parlamentares. O governo sabe e tem consciência que a acomodação política não está feita, não tem base consolidada, e convencemos nossos deputados que é importante que o governo tenha sua gestão”, completou.
O líder do União Brasil na Câmara, deputado Elmar Nascimento (BA), reforçou as críticas. “Depois que ficamos até a meia-noite fazendo lavagem de roupa suja, devo dizer que a insatisfação é geral, todos os líderes reconhecem. Tudo isso é fruto da forma contraditória, desgovernada, da falta de uma base estabilizada.”
Fonte: R7