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domingo, novembro 24, 2024

Calvário do Brasil no esporte

“O fracasso da Copa do Mundo do Brasil em 2014 surgiu apenas como a pá de cal e o nascimento da certeza de que há uma necessidade de aculturarmos nossos atletas para um novo momento“
O jovem cidadão brasileiro que nasceu por volta do ano de 2002 e que agora, ainda na pré-adolescência, começa a tomar gosto pelo esporte e se arrepiar em ouvir o hino do Brasil tocando na TV nas transmissões esportivas, mal sabe que o seu país, que agora é figurante, já teve referências a nível de mundo quando se fala em esporte. Para quem prevê neste momento que este artigo é sobre a vexatória derrota do time de futebol comandado pelo gaúcho de bigode para os rubro-negros alemães se engana, a intenção aqui é uma reflexão ainda mais profunda: não estamos mais no topo, de nada.
Até pouco tempo o Brasil massacrava no voleibol de quadra, hoje certamente está entra as cinco melhores e não mais que isso. A nova geração tem até bons valores, mas nada que aparenta a repetição do sucesso em quadra que tiveram Giba, Nalbert e cia. Quando olha para o basquete, este menino de 12 anos vê atletas brasileiros competentes, alguns até bastante utilizados por seus times milionários na NBA, mas que na primeira oportunidade em que tenham de escolher pelo dinheiro ou a seleção não titubeiam em agarrar o primeiro. Ah, se este jovem expectador soubesse que há algum tempo atrás tinha um cara grandão que arremessava 10 bolas de 3 e acertava 9 com a camisa amarela do Brasil e até hoje é revenciado até pelos americanos.
O que falar então quando este menino resolve chegar da missa ou do culto que foi com a mão pelo domingo cedo e liga a TV para ver fórmula 1. Este garoto talvez sofra anciosamente por nunca ter ouvido tocar o hino nacional neste esporte tão glamuroso. E quando por acaso, nos poucos lapsos de bom piloto que raramente desse feito uma entidade espiritual sobre o piloto baixinho de língua presa do Brasil, ele ainda peca pela omissão ou pela baixa estima e no fim tudo acaba dando errado. Será que é possível algum dia o pai deste menino conseguir passar em palavras para seu herdeiro quem foi Ayrton Senna? Jamais,porque por mais que o pai falar vão ser só frases seguidas de frases, já que o choro que ele mesmo derramou vendo Senna ganhar o GP de Interlagos em 1991, só com a sexta marcha funcionando normalmente e segurando o carro no braço, isto é imensurável para a imaginação do garoto.
Zapiando com o controle remoto de repente este menino para rapidamente em alguns destes canais de esporte na televisão à cabo e vê a supremacia que Djokovic, Nadal e Federal tratam seus adversários no tênis. Mal sabe ele que em alguns anos atrás tinham dois americanos, um com cara de gala mexicano: Pete Sampras, e outro carequinha: André Agassi, que eram tão avassaladores como os atuais. Esta lembrança ficaria ainda mais intrigante para o pré-adolescente se ele soubesse que tinha um magrelo brasileiro de Florianópolis que se meteu a jogar contra os dois e foi o único da história a ganhar tanto do carequinha quanto do bonitão em um mesmo torneio. O hoje rei do saibro e absoluto de Roland Garros, Rafael Nadal, assistiu pela TV e deve ter aplaudido, ainda garot,o vendo Gustavo Kurten ganhar por três vezes o torneio da frança que hoje ele reina, considerado o mais tradicional troféu do mundo do tênis.
Mas nem tudo está perdido, temos agora um novo esporte surgindo com toda a força: o UFC. Aí quando o garoto começa a se empolgar e falar que o seu país é o melhor do mundo, começa a ver cair um a um na lona: Cigano, Anderson Silva, Barão… Por um outro aspecto dá para se dizer que começa a nascer psicologicamente um novo tipo de brasileiro: aquele que sabe perder, aliás, o próprio Anderson Silva deu declaração recente dizendo que tem uma parcela de brasileiros que não sabe perder. Óbvio que não, porque só sabe perder quem está acostumado a derrotas contínuas, o que não era o caso do Brasil, até pouco tempo.
O fracasso da Copa do Mundo do Brasil em 2014 surgiu apenas como a pá de cal e o nascimento da certeza de que há uma necessidade de aculturarmos nossos atletas para um novo momento. Não existe mais lugar para indisciplina, marrentice, bate boca, noitadas, abandonos de treinos com a certeza de ser acariciado pela mão do povo, já que na hora do “vamo vê” damos resultados, porque não estamos enganando mais. O nosso esporte precisa se profissionalizar como um todo, porque não temos mais super-heróis, a realidade chegou. Ou é isso, ou o garoto que nasceu em 2012 vai ficar rouca de tanto gritar no comercial: “Joga Pra Mim…”
Hevandro Soares – Da Redação

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