As medidas de isolamento social implementadas durante a pandemia acabaram por afetar diversos setores da economia em todo o mundo. Neste cenário, o segmento dos orgânicos foi um dos mais atingidos pelos reflexos da crise global.
“Os alimentos orgânicos perderam mercado, inclusive na Europa. No Brasil, empresas que detinham uma parcela elevada no mercado mundial de açúcar orgânico, por exemplo, também foram prejudicadas”, afirmou a diretora da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Sylvia Wachsner.
Segundo ela, o País diminuiu sua participação nesse mercado, perdendo para outros países como a Colômbia, “porquê o governo colombiano assinou convênios com a comunidade europeia que facilitam a exportação de açúcar orgânico, sem tantos custos e barreiras”.
Sylvia visitou recentemente a nova edição da Biofach, a maior feira de alimentos orgânicos do mundo, que é realizada anualmente em em Nuremberg, na Alemanha, e observou uma redução do número de participantes em comparação aos eventos anteriores.
Para a diretora da SNA, “o atual cenário não é promissor”. Quanto ao Brasil, disse ela, “o governo precisa firmar convênios com outros países, incluindo os da comunidade europeia, que permitam incrementar a exportação de produtos orgânicos nacionais e, ao mesmo tempo, manter esse mercado”.
Açúcar
No caso do açúcar orgânico, Sylvia afirmou que uma possível solução para o País alavancar o mercado é adotar o modelo implementado em Mato Grosso do Sul, pelo qual o governo do estado garante incentivo financeiro equivalente a 67% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) aos pecuaristas da região do Pantanal que se dedicam à produção de carne orgânica.
“Da mesma forma, poderia haver um processo de desoneração do açúcar orgânico, a partir desses subsídios, para que o produto se torne mais competitivo”, explicou a especialista, acrescentando que a negociação, nesse sentido, poderia ocorrer por estado e não em âmbito federal.
“Temos 400 usinas de açúcar no País. No segmento orgânico, temos tecnologia devido aos processos orgânicos e agroecológicos que permitem a captura de carbono para a geração de crédito. Há canais de comercialização, logística e demanda. Podemos ser muito competitivos”, ressaltou a diretora da SNA.
Segundo ela, “não é justo que os produtores de orgânicos paguem a mesma carga de impostos que os produtores convencionais, que não têm essa tecnologia e esse cuidado com o solo e a água no manejo agrícola”.
Valor agregado
Outra proposta para que o Brasil retome o mercado internacional de orgânicos é trabalhar o valor agregado dos produtos “e não somente exportar matéria-prima”, salientou Sylvia. “Temos também de agregar valor para os produtos que vamos exportar, pois dessa maneira parte da receita final do produto pode ficar nas mãos da agricultura familiar, das cooperativas e das agroindústrias”.
“É preciso aprender com países como o Peru, que exporta os chamados ‘superalimentos’, incluindo frutas que levam a marca da Amazônia e da sociobiodiversidade peruana”, acrescentou a especialista.
Para ela, o Brasil precisa aprender a utilizar melhor sua biodiversidade. “Assim como no Peru, temos também na Amazônia brasileira uma fruta chamada camu-camu, que é rica em vitamina C e que não é explorada, ao contrário do que os peruanos fazem. Há diversas frutas brasileiras e diferenciadas que podem ser exportadas”.
Financiamento e parcerias
Segundo a diretora da SNA, esses produtos podem garantir lucro para a agricultura familiar e suas cooperativas e agroindústrias. “O governo precisa criar condições de pesquisa e de financiamento com prazos maiores e juros baixos e subsidiados para a produção desses tipos de frutas”.
Por fim, Sylvia chamou a atenção para a necessidade de parcerias com os setores público e privado, no âmbito das relações de “ganha-ganha”.
Consumo
Apesar dos problemas com o mercado externo, o consumo de orgânicos vem crescendo no Brasil. Pesquisa da Associação de Promoção dos Orgânicos, divulgada no ano passado, revela que 31% da população brasileira consome orgânicos nas refeições diárias. Segundo o estudo, o aumento foi de 106% em comparação aos dados levantados em 2017.
Por Equipe SNA
Fontes: Biofach/Revista Novo Tempo