Um ano de crise: Brasil sai mais forte e economicamente mais respeitado

No aniversário de um ano da crise econômica ‘comemorado’ nesta terça-feira (15.09), os gestores da área financeira de todo o mundo ainda buscam maneiras de desatar o nó do presente que criaram. O dilema está consolidado entre a responsabilidade de financiar, disponibilizar crédito para a manutenção e o crescimento da economia, oposto a maior responsabilidade em se evitar bolhas que resultem em novas crises. A análise foi feita pelo assessor econômico da Secretaria de Fazenda de Mato Grosso, Vivaldo Lopes.
Ele pontua que o sistema financeiro internacional está mais controlado, mais conservador. “É necessária muita sensatez para não frear a economia. O desafio é construir novos mecanismos para se ter um regulador de crédito confiável”. Para o assessor da Sefaz, o mundo pode estar vendo surgir uma nova modalidade de política econômica, antagônica, a do liberalismo monitorado pelo Estado. “Controle é diferente de intervenção. O que tivemos até agora foram intervenções circunstanciais, mas que vão servir de exemplo para o mercado”.
A lição que fica. “Toda vez que há um fluxo de crédito acima do normal, quem o fornece baixa a guarda na análise de risco, e quem contrai, analisa menos as possibilidades e fica tentado ao endividamento. A situação induz ao consumismo e gera as bolhas”. Como definição, “por mais moderno que o mercado de capitais seja, não pode ficar sem o monitoramento do Estado. Não dá mais para conviver com o liberalismo americano de Alan Greenspan, nem com o centralismo chinês”.
Para Vivaldo Lopes, o Brasil era visto como um sistema financeiro atrasado, “mas nosso defeito se transformou em virtude. No mundo todo, o Estado precisou interferir fortemente na economia para amenizar a crise. No Brasil, o Estado já atuava como regulador, e isto foi decisivo para enfrentarmos o momento sem muitas dificuldades”.
INTERNO
A economia nacional sofreu com a redução das exportações, principalmente de commodities minerais e dos produtos industrializados. “Mas a diversidade de mercados que o país atende garantiu uma saúde financeira ao Brasil. As commodities alimentares não tiveram grande redução na procura. O agronegócio foi o menos afetado pela crise. Mato Grosso foi fundamental neste processo”, afirmou o assessor econômico da Sefaz.
Mesmo neste cenário ainda positivo, a União necessitava se precaver para garantir a manutenção dos empregos. “A resposta do Governo Federal foi eficaz e rápida. A redução de impostos dos produtos industrializados aliada aos aumentos salariais acima da inflação tornou o mercado interno mais robusto. Outros países optaram como resposta à crise a redução de juros com a injeção de dinheiro diretamente nos bancos e indústrias. Esta solução demora mais tempo para surtir efeitos”, analisa Lopes.
Porém, o economista alerta que a redução de impostos praticada no Brasil deve ser temporária, sob o risco de se comprometer a estabilidade financeira das contas públicas. “Ela não pode passar de dezembro deste ano”, diz ele.
CONTROLE
O Fisco estadual tem registrado perdas nos repasses federais. Este ano eles estão 11% menores que em 2008. A Secretaria de Fazenda está mantendo o rígido controle para fechar 2009 com a mesma arrecadação que 2008, garantindo assim repasses aos municípios nos mesmos patamares que no ano passado. “Temos que ressaltar que 2008 foi o melhor ano da década em arrecadação, no país inteiro e sem crise econômica”, enfatiza o secretário de Fazenda de Mato Grosso, Eder Moraes.
Em compensação, Moraes acredita que o pior da crise já passou, sendo que existe a perspectiva que Mato Grosso supere 10% de crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. O Brasil tem assistido seus indicadores sendo realinhados para cima. No quarto trimestre de 2008, o PIB fechou com queda de 3,4%, no primeiro trimestre deste ano, a queda foi de 1%. Entretanto, no segundo trimestre de 2009, segundo os dados divulgados na última quinta-feira (10.09) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o crescimento foi de 1,9 no PIB.
Conforme o secretário de Fazenda, a perspectiva de superação fica maior com a previsão de fechamento deste terceiro trimestre, quando especialistas apontam para um crescimento no PIB próximo aos 3%. A expectativa é que 2009 feche com um crescimento entre 0,5 e 1% no PIB brasileiro, enquanto vários países terão índices negativos. “Para 2010 os economistas estão trabalhando com um crescimento entre 4,8 e 5%”, explica Eder Moraes.
Outro fator positivo da superação nacional frente a crise são as reservas em dólar. No dia 15 de setembro de 2008, quando houve oficialmente a quebra do Lehman Brothers e o mundo descobriu que a crise imobiliária dos Estados Unidos era capaz de levar grandes instituições financeiras a falência dando início a crise internacional, o Brasil possuía U$ 206 bilhões em reservas. Este número atualmente está em aproximadamente U$ 220 bilhões.
“O Brasil saiu mundialmente forte e economicamente mais respeitado da crise”, destaca Moraes. Os efeitos em Mato Grosso foram ainda menores. Os segmentos mais afetados, indústria siderúrgica, commodities metálicas e minerais, possuem grande expressividade no Estado. A indústria de transformação de alimentos não foi afetada. Em setembro, quando veio a crise, a safra já estava plantada e financiada. O medo da venda passou. A crise melhorou o preço internacional das commodities e a variação cambial se mostrou positiva. Mato Grosso conquistou mais um degrau na ranking
nacional dos Estados exportadores. Atualmente é o sexto
Ass. SEFAZ/Daniel Dino