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quinta-feira, novembro 21, 2024

Bolsonaro aproveita JN para mentir sobre Covid, corrupção e ataques à democracia

O presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou usar a entrevista concedida ontem (22) ao ao Jornal Nacional para negar os xingamentos que fez a ministros do STF, o deboche com doentes de Covid-19 que enfrentavam falta de ar e também fatos notórios de seu governo como o aumento do desmatamento, a corrupção em ministérios e as ameaças de não respeitar o resultado das eleições. A entrevista durou 40 minutos e por diversas vezes ele foi desmentido pelos apresentadores Willian Bonner e Renata Vasconcelos.

Questionado logo na primeira pergunta pelo apresentador William Bonner sobre os ataques que tem feito aos ministros do Supremo Tribunal Federal, incluindo xingamentos, Bolsonaro chamou de "fake news" a afirmação de que ofendeu ministros. Ele foi desmentido logo depois pelo apresentador da TV Globo. Você não está falando a verdade quando fala xingar ministros. Não existe. Isso não existe, é um fake news da sua parte."

Bonner rebateu: "O senhor começou sua resposta afirmando que eu tinha cometido fake news, em nome da verdade, candidato, o senhor xingou ministros do Supremo de canalha, você fez isso com microfone".

Na tréplica, Bolsonaro mentiu novamente. Admitiu que havia xingado Alexandre de Moraes, mas afirmou que esse foi o único caso. Na verdade ele xingou ministros publicamente em, pelo menos, duas ocasiões. Primeiro no dia 7 de setembro de 2021, em ato na Avenida Paulista, em São Paulo, Jair Bolsonaro chamou o ministro do STF —atual presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) —Alexandre de Moraes de "canalha". No mês seguinte, em outubro, Bolsonaro também chamou o ministro do STF Luís Roberto Barroso —à época presidente do TSE— de "filho da p…". "Aquele filho da p… ainda faz isso. Aquele filho da p… do Barroso", disse em agenda em Joinville (SC).

O presidente voltou a mentir ao negar que tivesse imitado alguém com falta de ar durante a pandemia ao ser questionado pela apresentadora Renata Vasconcellos. Ele ainda sugeriu que as imagens fossem exibidas. Bolsonaro imitou uma pessoa com asfixia publicamente ao menos duas vezes. Em março de 2021, durante sua live semanal, o presidente fez o gesto para criticar seu ex-ministro da saúde Henrique Mandetta. E repetiu o gesto durante live em maio de 2021, ao voltar a criticar o ex-ministro.

Outra mentira envolveu as mortes de pacientes com Covid-19 em Manaus por falta de ar. Bolsonaro afirmou que enviou cilindros de oxigênio 48 horas após a solicitação feita pelas autoridades amazonenses. Porém, documento enviado pelo próprio Ministério da Saúde à CPI da Covid, do Senado Federal, indica que o governo federal soube do aumento da demanda por respiradores quase um mês antes da crise.

Segundo o documento, a partir de 18 de dezembro de 2020, o estado do Amazonas solicitou 140 respiradores para aquele mês. No dia 2 de janeiro de 2021, o estado pediu mais 78 respiradores— totalizando uma demanda de 218 em apenas 16 dias.

Na parte final da entrevista aos jornalistas do Jornal Nacional na noite desta segunda-feira (22), o candidato a reeleição Jair Bolsonaro foi questionado sobre sua condução de políticas de preservação ambiental, que levaram o país a um cenário de devastação histórico. “No seu governo, a taxa de desmatamento deu um salto. O senhor continua apoiando uma política de desregulação?”, questionou a jornalista Renata Vasconcelos.

Bolsonaro tentou esquivar, apontar culpados, e fazer comparações com outros países, mas sem fazer referência direta aos números apresentados pelos jornalistas. “Qualquer propriedade na Amazônia tem que preservar. Tentei, nos primeiros dois anos, fazer uma regulação fundiária. O presidente da Câmara não colaborou. Quando se fala em Amazônia, por que não se fala na França? Na Espanha? Califórnia pega fogo todo ano. No Brasil acontece. Alguma parte disso é criminoso, outra não, é o ribeirinho que coloca fogo na propriedade.”

O presidente foi prontamente rebatido. A apresentadora afirmou que o problema não se resume às queimadas naturais, mas sim à devastação por, entre outros, grileiros, madeireiros e o garimpo ilegal. “Uma coisa é incêndio natural, outra coisa é desmatamento. No seu governo a taxa anual de desmatamento saltou de 7 mil quilômetros quadrados para 13 mil quilômetros quadrados no ano passado. E 97% dos alertas de desmatamento emitidos desde 2019 não foram fiscalizados (…) Em 2018, o mundo tinha uma visão sobre o compromisso ambiental do Brasil. Hoje, o mundo vê o Brasil como destruidor de floresta”.

CORRUPÇÃO E ECONOMIA
Outro tema de destaque durante o debate foi o posicionamento de Bolsonaro sobre corrupção em seu governo. O jornalista William Bonner lembrou ao candidato que ele foi eleito em 2018 com discurso de combate à corrupção e ao bloco político da Câmara conhecido como Centrão. E que, no entanto, o agora presidente diz abertamente “ser parte do Centrão. Hoje, o Centrão é a base do seu governo”, disse Bonner.

Neste momento, Bolsonaro utilizou de artifícios retóricos para distorcer o debate e justificar sua postura. “Você está me estimulando a ser ditador. Se eu deixar o Centrão de lado, não vou governar com o Parlamento. São 513 deputados; 300 de partidos de centro. Os 200 que sobram, PT, PCdoB, não dá pra conversar com eles. Os partidos de centro fazem parte da base do governo para que possamos avançar em reformas”, disse. E mentiu ao dizer que “no seu tempo (como deputado), não existia Centrão”.

Em seguida, o presidente afirmou que em seu governo “não existe corrupção”. Contudo, na pergunta seguinte sua narrativa já foi confrontada. “Na Educação, um ministro caiu porque pediu que professores fizessem propaganda sua. Outro falsificou o próprio currículo. Outro xingou ministros e fugiu do país. Outro foi preso por um escândalo de corrupção envolvendo pastores. Qual o critério?”, questionou.

Bolsonaro adotou uma postura de defesa sem se comprometer do ex-ministro preso, Milton Ribeiro. “As pessoas se revelam quando chegam, igual a um casamento. O ideal não é ter rotatividade, mas acontece (…) Ele teve acusação. Foi preso e conseguiu habeas corpus. A questão de ter dois pastores no gabinete dele, qual o problema?”, disse. Bonner, por sua vez, respondeu indignado: “Não é escandaloso direcionar dinheiro da Educação para pastores? O senhor tem todo o direito de achar que não foi escândalo. Hoje o senhor diz que casos de corrupção em seu governo ‘pipocam’.”

Bonner lembrou que, em 2018, Bolsonaro prometeu inflação baixa, taxa de juros menor e um real valorizado. Contudo, a inflação mais do que dobrou. Do mesmo modo, a taxa básica de juros – a Selic – teve 11 altas consecutivas, e está fixada em 13,25% ao ano.

Bolsonaro disse que suas promessas foram “frustradas” em função da pandemia e por uma “seca enorme” no ano passado. No entanto, as consequências da seca, como a alta dos preços dos alimentos, poderiam ter sido amenizadas, se o seu governo não tivesse acabado com os estoques reguladores.

Sobre os preços, Bolsonaro disse que o Brasil talvez seja o “único país do mundo” a registrar deflação atualmente. No entanto, esse cenário é resultado apenas de uma intervenção nos tributos, com a aprovação do teto do ICMS sobre serviços essenciais, que resultaram principalmente na queda dos preços dos combustíveis. Em função dessa medida, estados e municípios perderam arrecadação. Ao mesmo tempo, os acionistas da Petrobras continuam lucrando como nunca. Por outro lado, os preço dos alimentos continuam subindo.

 

Da Redação (com UOL e RBA)

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