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sábado, novembro 23, 2024

Biden ri após pergunta sobre conversa com Bolsonaro, que não deve ligar para ele

O presidente Joe Biden riu nesta quinta-feira (28) após ser perguntado sobre quando iria conversar com Jair Bolsonaro. Oito dias depois de assumir a Casa Branca, o democrata já falou diretamente com ao menos sete chefes de Estado, mas ainda não há planos sobre a vez do brasileiro.

Dentro do Salão Oval, Biden foi questionado pela GloboNews se havia data prevista para uma conversa direta com Bolsonaro, mas preferiu sorrir a responder.

Em 20 de janeiro, dia da posse do democrata, o governo brasileiro trocou o habitual telefonema para cumprimentar o novo presidente dos EUA por uma longa carta, enviada à Casa Branca para tentar abrir canais de diálogo com Biden.

Bolsonaro era um apoiador público de Donald Trump, ecoou a tese sem provas do republicano de que as eleições americanas haviam sido fraudadas e, por mais de uma vez, dirigiu-se de forma agressiva a Biden. Uma delas, quando o democrata sugeriu impor sanções pela destruição da Amazônia e ofereceu fundos para conter a devastação na floresta, e ouviu do brasileiro que não aceitava subornos.

Diante do cenário belicoso, a avaliação de diplomatas e integrantes do setor militar do Planalto era que um documento escrito seria a melhor –ou única– maneira de tentar baixar a temperatura e sinalizar aos EUA e aos demais atores internacionais que o Brasil tem disposição em continuar sua relação com Washington mesmo sem Trump.

O telefonema, naquela circunstância, não cumpriria a missão, já que o conteúdo integral das ligações é quase sempre privado. Além disso, Bolsonaro não fala inglês e não conseguiria entabular uma conversa satisfatória com o americano –tradutores, geralmente, tornam esses momentos ainda mais frios e protocolares.

Agora, a expectativa do governo brasileiro é que a conversa entre Biden e Bolsonaro aconteça somente quando houver uma medida específica para ser tratada pelos líderes –ou uma emergência.

Desde que assumiu a Casa Branca, Biden seguiu a tradição de falar com os chefes dos países vizinhos, Justin Trudeau (Canadá) e Andrés Manuel López Obrador (México), e com líderes de nações com relações tidas como estratégicas ou históricas com os EUA, como Boris Johnson (Reino Unido), Emmanuel Macron (França), Angela Merkel (Alemanha), Vladmir Putin (Rússia) e Yoshihide Suga (Japão).

Em entrevista coletiva nesta quinta, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o Brasil terá papel-chave nas negociações sobre o clima, apesar de já ter dado mostras de que o país –ou o telefonema com Bolsonaro– não será o foco de Biden nesse primeiro momento.

"Esta [agenda do meio ambiente] é uma grande prioridade para o presidente Biden e é por isso que ele pediu a seu bom amigo, o ex-secretário [John] Kerry, para liderar nosso esforço internacional para o clima, e certamente o Brasil será um parceiro-chave nisso", afirmou Psaki.

O embaixador do Brasil nos EUA, Nestor Forster, diz que não há diplomacia nova diante das prioridades do novo governo e que é preciso "continuar o trabalho que já estava sendo feito, com interlocução na Casa Branca e no Congresso, além do setor privado e sociedade americana".

"A relação do governo brasileiro com o governo americano não recomeça do zero [com a saída de Trump], mas com um patrimônio de quase dois séculos de uma agenda de cooperação e colaboração", afirma o embaixador.

 

"Essa agenda é baseada nos valores compartidos pelos dois países, a ideia não é só governo, mas respeito à democracia, ao Estado de Direito, aos direitos humanos e à liberdade econômica."

Há quem diga que John Kerry, o czar do clima de Biden, tem perfil diplomático e não deve entrar em choque com o governo brasileiro de saída, mas os mais céticos afirmam que ele precisará mostrar serviço e, caso não consiga grandes avanços internamente, mirar um vilão externo pode ser um caminho inteligente.

Assinada por Bolsonaro, a carta do dia da posse de Biden tinha três páginas e 771 palavras, tentando mostrar, entre outras coisas, que o país seria capaz de fazer alguma colaboração nas questões ambientais –apesar do desmantelamento da política de meio ambiente promovida pelo Planalto.
Biden assinou nesta quarta-feira (27) um pacote de estimados US$ 2 trilhões para enfrentar a crise climática. As medidas, que ainda precisam de aval do polarizado Congresso dos EUA, atingem fortemente a indústria de gás e petróleo, incentivam a economia sustentável e citam o desenvolvimento de um plano para a proteção da floresta Amazônia.

Bolsonaro levou 38 dias para felicitar Biden pela vitória. A imprensa americana costuma fazer uma projeção do vencedor da disputa à Casa Branca pouco tempo depois do pleito, que é confirmada pelo Colégio Eleitoral mais de um mês depois.

O líder brasileiro só tratou o democrata como vitorioso em 15 de dezembro, um dia após a chancela do colegiado.

Não há regra sobre como deve ser o formato das felicitações a um presidente eleito, consideradas uma cortesia diplomática, mas os últimos três líderes brasileiros optaram pelo telefonema horas ou poucos dias depois da projeção dos resultados nos EUA.

Em 2016, Michel Temer telefonou para Donald Trump em 9 de novembro, horas depois de a vitória do republicano ser declarada. Já em 2012, a então presidente Dilma Rousseff telefonou para Barack Obama um dia após sua reeleição, mas o democrata não pode atender e reagendou a ligação para o dia seguinte.

Segundo assessores da petista, os dois conversaram sobre desequilíbrio fiscal e questões raciais –a brasileira lembrou que havia falado com a então primeira-dama Michelle Obama sobre a preocupação de uma derrota de Obama ser debatida sobre esses pilares.

Em 2008, quando o primeiro presidente negro da história dos EUA chegou à Casa Branca, era Lula quem estava no Planalto. O petista tentou telefonar no mesmo dia em que eleição de Obama foi projetada, mas não conseguiu contato devido ao assédio de diversos líderes internacionais, e fez chegar às mãos de Obama uma mensagem de parabéns enviada via fax.

Líderes que falaram com Biden ao telefone após a posse

Justin Trudeau
primeiro-ministro do Canadá, em 22 de janeiroAndrés Manuel López Obrador
presidente do México, em 22 de janeiro

Boris Johnson
primeiro-ministro do Reino Unido, em 23 de janeiro

Emmanuel Macron
presidente da França, em 24 de janeiro

Angela Merkel
chanceler da Alemanha, em 25 de janeiro

Vladimir Putin
presidente da Rússia, em 26 de janeiro

Yoshihide Suga
primeiro-ministro do Japão, em 27 de janeiro

DA FOLHAPRESS

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