Balbúrdia e o currículo do ministro

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Um dos principais temas em debate neste ano foram os cortes e contingenciamentos na educação. A alegação inicial do ministro Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub foi que as universidades estariam fazendo balbúrdia (desordem barulhenta; vozearia, algazarra, tumulto). O ministro é professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e fiquei curioso para saber sobre as contribuições dele dentro ambiente acadêmico e decidi dar uma olhada no seu currículo lattes.
O ministro iniciou na carreira docente em 2014, e não atualiza o currículo desde 2017, provavelmente quando acabou os 3 anos de estágio probatório. Atualizar o currículo é uma das coisas que todo professor deve fazer ao menos uma vez por semestre, pois a disputa interna por bolsas e a participação de editais de pesquisa fica prejudicada quando o currículo não está atualizado.
Mas para o ministro isso parece não ser um problema, no currículo dele não existe registro de nenhum projeto de pesquisa e nem de extensão universitária que ele tenha participado ou coordenado. Em todo tempo como professor consta apenas uma orientação de estudante. Mesmo sendo professor em uma das melhores universidades do Brasil, o número de trabalhos e artigos publicados é baixo. Como professor, ele diz que uma das maiores satisfações foi quando ministrou aulas para 180 alunos em uma disciplina. Com certeza ele conseguiu dar atenção necessária para cada discente.
O papel da universidade é realizar ensino, pesquisa e extensão. O ensino é feito nas salas de aulas e laboratórios e o resultado final e a formação de profissionais para a sociedade. Mas o ensino não se faz sem pesquisa, que é desenvolvida desde a graduação através das bolsas de iniciação científica e depois continua na pós-graduação nos programas de mestrado e doutorado. A extensão ocorre em todas as etapas e é uma ação de uma universidade junto à comunidade a seu redor, através de exposições, cursos, palestras, oficinas entre muitas outras formas de compartilhar o conhecimento com a sociedade.
Iniciei minha careira como docente em 2015, um ano após o ministro. Neste tempo orientei mais de 20 alunos entre iniciações cientificas, monitoria de disciplinas e bolsistas de extensão, fui membro da equipe ou coordenador de mais de 11 projetos de pesquisa ou extensão, além de mais de 40 publicações contando artigos, trabalhos apresentados em congressos, além de realizar palestras em diversos eventos. Isso sem falar nas contribuições internas na universidade em comissões, colegiados ou como coordenador de curso.
Coloquei um breve resumo do meu currículo para que o leitor possa fazer uma comparação com as atividades desenvolvidas pelo ministro praticamente no mesmo período de tempo. Mas pode ser que ele seja um super professor, pesquisador e que realize extensão e oriente muitos alunos. Talvez só não tenha tempo para atualizar o currículo, ou então, ele é um professor que não entendeu até hoje o papel da universidade, e que não faz sua parte como pesquisador, orientador e não realiza atividades de extensão.
Não sei qual é o caso, mas é esse cidadão que hoje é nosso ministro da educação, e que diz que algumas das melhores universidades brasileiras, reconhecidas mundialmente, estão fazendo balburdia. Mas o que o ministro fez como professor? Será que ele entende da estrutura universitária? O presidente durante a campanha disse que não entendia nada de quase nada, e por isso, prometeu indicar pessoas que entendessem de cada área para os ministérios. Será que o presidente lê o currículo de quem ele indica para os ministérios? Será que esse era o melhor nome para educação que existia no time do Bolsonaro?
Precisamos refletir sobre isso, pois sem educação o país não evolui. Sem educação não teremos competitividade. Sem educação o Brasil está fadado ao fracasso. As universidades não fazem balburdia, elas fazem ensino, extensão e pesquisa que mudam a realidade do Brasil e do brasileiro. Eu sei disso, mas e o ministro sabe?
Caiubi Kuhn
Geólogo, especialista em Gestão Pública e mestre em Geociências pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Doutorado em Geociências e Meio Ambiente (UNESP); Docente do Faculdade de Engenharia UFMT-VG;