Apoio do agronegócio divide opiniões da esquerda em Mato Grosso

O anúncio do apoio de lideranças do PP e do PSD à pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva em Mato Grosso deve servir como senha para o embarque de parcelas importantes do agronegócio na campanha do petista. Mas, mesmo sendo uma vitória do ponto de vista estratégico, a vinda dos novos apoiadores divide opiniões entre as lideranças Federação Brasil da Esperança no estado.
A visão majoritária entre os partidos da Federação – PT, PV e PC do B – é de que o apoio do agronegócio fortalece o projeto nacional e que as diferenças devem ser superadas em favor de um objetivo maior.
“Estamos juntos para salvar o Brasil da catástrofe que é o governo Bolsonaro. Queremos ajudar o Brasil a fazer a travessia desse obscurantismo a que fomos arremetidos a partir das eleições de 2018”, diz o deputado estadual Valdir Barranco, presidente do PT em Mato Grosso e um dos articuladores do diálogo.
Em entrevista exclusiva concedida na semana passada ao RegionalMT (veja aqui, a partir dos 27 minutos), Barranco disse que o diálogo ocorre com setores que não são extremistas e que reconhecem os conquistas dos governos petistas.
“Quem olha para trás sabe que o Agronegócio era quebrado, vivia fazendo manifestação nas rodovias com tratores velhos, queimando pneus. Com o governo Lula isso mudou e o Agro adquiriu a condição que tem hoje. O que nós queremos é fazer um governo de inclusão, para todos, e o agro faz parte desse conjunto”, destaca.
Por outro lado o deputado Lúdio Cabral, outra estrela do PT de Mato Grosso, não poupa críticas a aproximação. Em declarações à imprensa ele defende que a Federação negue apoio à candidatura de Neri Geller (PP) e tem ressaltado a participação dos agora aliados na cassação da ex-presidente Dilma.
O parlamentar também critica os danos sociais e ambientais produzidos pelo que chama de ‘barões do agronegócio’ e já antecipou que se posicionará contra a aliança em Mato Grosso. “Isso é uma contradição que não tem tamanho. Vou lutar com todas as forças para não deixar isso acontecer”, afirmou em entrevista a uma emissora de rádio de Cuiabá.
NOVO AGRO
Procurado pela reportagem do RegionalMT o presidente do diretório estadual do Partido Comunista do Brasil (PC do B), Sérgio Negri, mostrou-se favorável a aliança com setores do agronegócio e legendas que não integram a Federação.
“O PC do B tem prática de frente ampla e consciência de que temos um objetivo comum que é derrotar o bolsonarismo. Também consideramos o Agronegócio importante para o país”, afirmou.
Negri pondera que a aproximação não significa o abandono das idéias defendidas pela esquerda. Segundo ele, o diálogo ocorre de forma transparente e pode auxiliar na construção de um novo modelo para o agronegócio brasileiro.
“Acho que precisamos repensar algumas coisas. Queremos, por exemplo, um agronegócio também voltado pra dentro, visando industrializar e abastecer o país. Isso não significa que eles (empresários) terão menos lucro. Ao contrário, estamos convencidos que é possível ter lucro ajudando a desenvolver o Brasil”, afirma.
Eduardo Ramos – Da Redação