Entrevistar o senhor Antônio Ribeiro Torres é muito especial sobre tudo para quem trabalhou e conviveu com ele num período de quase 20 anos. Ribeiro não deixa nada que se possa fazer hoje para amanhã, e não tem hora para ajudar as pessoas seja amigo, compadre, afiliado ou funcionário. O coração do Ribeiro é muito maior que ele, digo isso porque o conheço, é um ser humano além do seu tempo, cultuador das amizades que só ele sabe como preservar. Este espaço do Jornal Folha Regional é acima de tudo gratificante, e como sempre oportuniza para que os nossos leitores conheçam um pouco mais sobre a trajetória de vida daqueles que nos honram com suas entrevistas, a exemplo do amigo Ribeiro.
Jornal Folha Regional: O senhor é natural de que cidade?
Antônio Ribeiro: Eu nasci na cidade de Tanabi interior do Estado de São Paulo onde eu vivi até os 5 anos de idade, meus pais Otaviano Ribeiro dos Santos e Anísia Rodrigues Torres, tiveram três filhos eu e minhas irmãs Lurdes Ribeiro Torres e Cenice Ribeiro Torres. Em dado momento os meus pais foram traídos pela fama do diamante trouxeram a família para Mato Grosso, onde passamos a residir em Poxoréo, e lá residimos até os meus 14 anos de idade. De Poxoréo os meus pais foram para a cidade de Nortelândia também atraídos pelo diamante, e lá permanecemos até os meus 17 anos de idade.
JFR: Em que ano o senhor chegou a cidade de Rondonópolis?
Antônio Ribeiro: Quando os meus pais chegaram em Rondonópolis eu estava ainda com os meus 17 anos, nós chegamos nesta cidade no dia 10 de fevereiro de 1957 onde estou até hoje.
JFR: Como foi a sua trajetória na educação inicialmente?
Antônio Ribeiro: Eu estudei mesmo em Poxoréo, fui aluno da professora Arolda Dueti Silva, um pessoa extraordinária. Naquele tempo havia um rigor nas salas de aula era o tempo ainda das palmatórias, e os alunos mais rebeldes eram colocados de joelhos nos grãos de milho. Confesso que eu nunca passei por uma sessão de palmatória e nunca ajoelhei nos grãos de milho, ao lembrarmos disso agora convenhamos eram momentos trágicos para quem passava por aquelas sessões. Estudei também com o professor João Torres um dos mais enérgicos professores daquele período. Um dia um aluno franzino e bem magrinho “soltou um pum” e ele estava perto e queria saber quem era o autor, todos ficaram apreensivos e o aluno inocentemente disse : “fui eu professor”, por sorte desse aluno, que certamente o professor julgou pela fragilidade, respondeu: “meu filho vai no banheiro”. Assim ele escapou do torturante castigo.
JFR: Como surgiu o seu interesse pela comunicação, mais especificamente pelo serviço de autofalantes?
Antônio Ribeiro: Eu sempre fui um admirador da fala, da boa voz e de quem sabe falar, sempre adorei a boa música sou um apaixonado pela arte da comunicação. La em Nortelândia tinha um serviço de autofalantes que ficava na zona da cidade. Eu sempre ia lá e o locutor nas horas vagas me passava o microfone para que eu pudesse dar alguma mensagem. Como eu estava com 14 anos era menor de idade, e por tanto não poderia frequentar a zona do baixo meretrício como era chamada, quando a polícia chegava eu me escondia em baixo da mesa, e era avisado quando a polícia saía. E assim fui tomando gosto pelo microfone.
JFR: O senhor chegou aqui com 17 anos de idade, mas quais os motivos que o trouxeram para Rondonópolis?
Antônio Ribeiro: A minha mãe ficou muito doente na cidade de Nortelândia e precisava de um tratamento cirúrgico, lá não tinha recurso então eu vim com ela para Rondonópolis e as minhas irmãs ficaram lá com o meu pai. Aqui deu tudo certo, e acabamos ficando definitivamente, depois as minhas irmãs e o meu vieram também para esta cidade.
JFR: Como foi a sua trajetória na comunicação em Rondonópolis?
Antônio Ribeiro: Aqui tinha a Loja Riachuelo, e descobriram que eu falava em microfone e tinha alguma experiência, e eu comecei a atuar fiz a inauguração da Riachuelo, da Pernambucana trabalhando com o serviço de autofalante itinerante ou seja volante. Depois de algum tempo em comprei um equipamento de um serviço de autofalante que existia na Praça Brasil, cujo proprietário era um rapaz de Campo Grande. Era localizado exatamente onde é hoje o EEMOP na esquina da João Pessoa com a Amazonas. Naquele período o senhor Amorin montou a Rádio Braniff e foi no estúdio e me deu um recado: “Existe uma determinação do Ministério das Comunicações que onde tem uma emissora de Rádio não pode existir autofalante, o senhor vai ter que fechar, a não ser que o senhor queira vir trabalhar para nós.”
JFR: Como o senhor se sentiu diante daquela proposta?
Antônio Ribeiro: Bem, eu naquela época ganhava com o serviço de autofalante 11 salários, eu perguntei a ele quanto o senhor me paga? Ele me disse eu pago 1 salário mínimo em caráter experimental que vai durar 3 meses, depois nós vamos sentar e conversar com a rádio estiver oficializada. Mas esse sentar e conversar nunca existiu, eu fui o locutor que inaugurou a emissora oficialmente. Ali eu fiquei durante muitos anos, fiz vários programas todos os gêneros musicais, jornalismo fazia de tudo. Mas onde eu me dediquei mesmo e que chamou a atenção da cidade foi num espaço que eu fazia a noite, “Na Hora da Seresta.” Depois entrou um novo gerente, e que viu que a minha audiência era muito grande “cresceu os olhos” e quis pegar o programa. Ele não tinha coragem de me mandar embora, mas estava querendo que eu saísse para que ele pegasse o referido programa. Nesse interim ele me colocou em vários programas da emissora, nos horários das 8h as 8:30h – das 10h as 10:30h – das l3h as 13:30h porque ele sabia que nesses horários eu não tinha tempo de vender terreno, e eu precisava ganhar mais não podia ganhar só um salário mínimo. Sendo assim eu notoriamente saí, não dava mais para ficar na Rádio. Ele ficou com o programa que em pouco tempo acabou em nada. Não vou citar o nome dele, posteriormente ele se tornou grande amigo, ele adoeceu ia cortar o pé e nós procurarmos ajudá-lo para que isso não acontecesse. Ele foi encaminhado para Goiânia e não precisou cortar o pé, trocou a veia que estava entupida.
JFR: Como surgiu a imobiliária na sua vida e o talento para vendas?
Antônio Ribeiro: Inicialmente eu comecei vendendo livros e carnês, eu estava com 22 anos quando comecei no ramo de imobiliário na função de corretor de imóveis.
JFR: Como surgiu o convite para que o senhor fosse dono de uma Rádio?
Antônio Ribeiro: Eu recebi uma proposta do senhor Hermínio Pires de Amorin para que eu comprasse a Rádio, eu não quis porque havia um problema com o senhor Antônio Rosa. Procurei o Antônio Rosa e disse para ele que o Amorin havia me procurado e me oferecido para que eu comprasse a Rádio, e não houve concordância, não deu certo não deu certo. Eu continuei no ramo imobiliário, quando fizeram uma campanha para que eu voltasse a Rádio para fazer um programa. O Edson filho do Amorin disse: “Eu não quero o Ribeiro”, eu disse tá bom. Mas quando ele me falou dessa expectativa negativa eu pensei. Agora eu vou montar uma Rádio minha, da qual eu seja proprietário. Em Ponta Porã tinha um rapaz que havia ganho um prefixo aqui em Rondonópolis e estava vendendo, imediatamente chamei o Zhaide Arbid que também tinha um sonho de montar uma Rádio, ele disse: “Você quer comprar comigo, eu disse vamos em frente.” Isso era 3 horas da tarde, as 7 da noite nós saímos, e fomos amanhecer lá em Dourados. Compramos a Rádio, mas era a Onda Tropical muito difícil para se trabalhar comercialmente, da OT partimos para a Onda Média OM, momento em que nós tivemos ajuda do Senador Benedito Canelas. Nessa época o Clovis e o Barreto já estavam conosco. O Barreto e o Clóvis trabalharam para pagar o Zaide e se tornaram sócios da Rádio. Posteriormente partimos para a FM entramos na concessão para a FM e nós estávamos lutando há mais de 2 anos por essa emissora. Naquela ocasião o nosso padrinho era o deputado federal Jonas Pinheiro. Eu estava muito preocupado com essa situação de espera alongada, eu ligava pra ele de 10 em 10 minutos e não o encontrava. Quando foi 8h da noite que eu liguei no gabinete dele, o assessor atendeu e prontamente passou o telefone à ele. Ele me disse: “Ribeiro voce não sabe de onde eu estou vindo agora, estive no Ministério das Comunicações e fiquei esperando a audiência até as 7 da noite, e disse o Edson Amorin ganhou a concessão da Rádio, nós perdemos. Mas eu conversei com o Ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães que evitasse a publicação no Diário Oficial, e assim aconteceu. O Ministro Antônio Carlos havia recebido um pedido da bancada do PMDB cuja a liderança era o senador Louremberg Nunes Rocha que me pediu para ir a Brasília em caráter de urgência, e assim eu fui com o Barreto e fomos recebidos pelo senador Louremberg. Ele ficou por sua vez ficou surpreso e disse: “Vocês nunca me pediram uma Rádio, o meu grupo são vocês.” O Edson havia me pedido, mas eu vou passar para vocês agora, eu só preciso da assinatura dos outros senadores, foi feito um relatório e nos corremos eu e o Barreto de gabinete em gabinete. A rádio saiu e nós devemos ela ao Jonas Pinheiro, com o grande apoio do também senador Louremberg.
JFR: Como surgiu o espaço de lazer na Coréia que fica na nossa região nas proximidades de Rondonópolis?
Antônio Ribeiro: Eu sou apaixonado por pescaria, certa feita eu recebi um convite do Manoel Novaes para uma pescaria na região de Tesouro e eu gostei muito do local, fui a primeira vez, fui a segunda vez na terceira vez eu encontrei um problema sério, a região precisava fazer um rego d’agua, havia um local que tinha mais de 18 quilômetros de pedras. Eu vi o sofrimento da população e eu reuni o pessoal e falei vamos fazer essa barragem, todos concordaram. Tinha uma pessoa na vizinhança de Tesouro que fazia essa barragem, e ele fez um levantamento e fez a tão sonhada barragem. Coloquei o Novaes e o Paniago como sócios. Foram dois anos de trabalho nos não falhamos uma semana, tinha 40 homens trabalhando toda a semana nós pagávamos as diárias e eu pagava a todos. Mas teve uma semana que ficou na história era uma sexta feira cedo e eu não tinha o dinheiro para pagar aqueles homens que estavam trabalhando, eu nunca havia falhado. Eu entrei no carro na porta da imobiliária e comecei a rezar, pedi para Nsa. Aparecida de quem sempre fui devoto que me iluminasse naquele momento. Quando sem que eu esperasse alguém tocou o meu braço que estava sobre a porta do carro e me disse: “ Você ainda tem aquele terreno para vender?” eu falei tenho ele disse vamos lá em casa pegar o dinheiro, e era a quantia que eu precisava para pagar o pessoal. Eu jamais me esqueço dessa passagem.
JFR: Como foi a sua trajetória em Barão de Melgaço até chegar a prefeito da cidade?
Antônio Ribeiro: Tudo começou no Barão também com uma pescaria, a convite do Manoel Novaes fiquei lá um final de semana, peguei bastante. Eu adorei o local e nós deixamos a traia de pesca na canoa, eu fiquei preocupado e disse a ele que era preciso guardar a traia pois eu tinha um canivete de estimação na bolsa, o Manoel não é preciso guardar a traia aqui ninguém mexe, apesar de não ter dado muito crédito a afirmação dele, no dia seguinte fomos lá e tudo estava intacto. Isso fez com que eu me entusiasmasse e ficasse apaixonado pelo local. Eu tenho algumas construções lá, e essa paixão por Melgaço fez com que os moradores daquele município me levassem a ser prefeito daquela cidade. E com essa oportunidade na minha administração fiz muitas estradas e inúmeras escolas modelo com ar condicionado, apesar de não ter tido o apoio de todo poder legislativo.
JFR: Como surgiu a questão Ilhéus?
Antônio Ribeiro: Eu fui com o Barreto fazer uma transmissão de futebol em Salvador, chegando em Salvador o saudoso Barreto me disse vamos conhecer Ilhéus? Uma cidade turística muito famosa e para lá fomos, eu adorei a cidade, conheci a praia do sul e a praia do norte. Eu falei um dia eu vou comprar um terreno aqui e vou fazer uma casa, como a palavra tem um poder muito forte. Depois de algum tempo as coisas aconteceram. Vou sempre para Ilhéus passar as minhas férias com a família e gosto de levar os amigos.
JFR.: Qual a importância da família para o senhor?
Antônio Ribeiro: A família é tudo na vida de um cidadão, tenho 6 filhos: a Sandra, que reside na Holanda, Roberto odontólogo, Marcelo que é médico, Marco Antônio é advogado, Keli administradora de empresa e a Graça que é odontóloga. Minha esposa Maria das Graças Souza é uma pessoa maravilhosa e muito desprendida nas causas sociais.
JFR: Agradecemos a sua gentil e cordial atenção por ter nos concedido essa entrevista, a esta coluna do Jornal Folha Regional.