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domingo, novembro 24, 2024

Alimentos puxam inflação para cima, e governo sugere trocar carne pelo frango

FONTE: R7
Sentar-se à mesa para comer, seja em casa ou em um restaurante, está ficando cada vez mais caro. É o que mostram os dados da inflação oficial (o IPCA), divulgados nesta quarta-feira (8) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com o grande impacto das carnes no índice do mês passado, o governo sugeriu a troca do alimento pelo frango, ovos e outras aves.

De acordo com o IBGE, a inflação no Brasil fechou em 6,75% no acumulado de 12 meses — entre setembro de 2013 e setembro de 2014. Esse valor é bem acima da meta do governo, estipulada em 4,5%, com tolerância de até 6,5%, o chamado “teto da meta”. Foi a maior inflação acumulada desde outubro de 2011, quando o índice cravou 6,97%.

Dos 50 produtos e serviços avaliados pelo IBGE que mais subiram nos últimos 12 meses, apenas cinco não pertencem ao grupo de alimentos. São eles: carvão vegetal (+24,91%), pá (+23,57%), refrigerador (+17,54%), energia elétrica residencial (+14,72%) e reforma de estofado (+14,41%).

Dentre os outros 45 produtos estão, por exemplo, tangerina (+61,67%), tomate (+25,34%), carnes em geral (+19,58%), cebola (+20,72%) e carne-seca (+30,39%).

A seca histórica de 2014 é uma das culpa das por essa conta, já que seus efeitos não se restringiram ao primeiro semestre e se estenderam ao longo do ano.

Com relação ao preço das carnes — que estão em patamares recordes —, os produtores também reclamam da seca severa. Isso prejudicou os pastos e a engorda dos animais, o que reduziu a oferta e pressionou os preços para cima.

Em entrevista coletiva na quarta, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, afirmou que as carnes contribuíram de "forma relevante" para a alta do IPCA de setembro. De acordo com ele, o brasileiro tem uma série de outros produtos que podem servir de substitutos para o alimento, como frangos, ovos e outras aves, que vêm apresentando comportamento benigno este ano.

O secretário ainda destacou alguns produtos, como a farinha de mandioca, que apresenta queda de 26,54% no ano. Segundo ele, os preços no atacado também apresentaram recuo.

— Esses preços no atacado também devem ajudar no controle da inflação ao consumidor nos próximos meses, outubro, novembro e dezembro.

A avaliação dele é de que, até o final do ano, a economia tenha um comportamento melhor que o último trimestre do ano passado, "de sorte que a inflação convirja para as metas".

Comer fora de casa não está entre os campeões do preço alto, mas também puxou os preços pra cima, com inflação de 10,59% nos últimos 12 meses.

A boa notícia

Apesar da comida mais cara, não há motivos para apostar em uma escalada inflacionária nesse momento. Essa é a avaliação do economista Ramon Garcia Fernandez, coordenador do curso de economia da UFABC (Universidade Federal do ABC).

— Não é bom ficar muito preocupado com esses produtos porque eles dependem muito da safra. Com uma safra maior ou menor, eles oscilam muito de preço, principalmente os hortifrútis.

O professor aponta ainda um erro na medição da inflação, já que os institutos não contabilizam um comportamento da população: a substituição dos alimentos mais caros por outros produtos.

Se a variação é maior entre os alimentos, isso significa que há produtos com preços mais baixos. A boa notícia, nesse caso, é que o carro-chefe da família brasileira, o “arroz com feijão”, registra preços abaixo da inflação.

Se o índice geral é de 6,75%, o preço do arroz, no mesmo período, cresceu 5,17%. A mistura com o feijão torna a combinação ainda mais atrativa.

O grão é o produto cujo preço mais caiu no País: o feijão-carioca baixou 33,65%, o feijão-mulatinho caiu 30,14% e o feijão-preto, 6,78% negativos. Só o feijão fradinho subiu: 4,97% (veja ao final quais produtos estão mais caros e quais estão mais em conta).

Por que a alta de juros não surtiu efeito?

Como a inflação está mais influenciada pelos alimentos, a principal estratégia do governo para combater a inflação vem surtindo pouco efeito: a alta da taxa básica de juros, a Selic.

Para o sócio-diretor da corretora Easynvest, Marcio Cardoso, o aumento de juros impactou setores como o automobilístico e o de imóveis, mas não o de alimentos.

— Os juros acabam não atingindo esse consumo.

Segundo o economista Fernandez, da UFABC, para surtir algum efeito, seria preciso subir ainda mais os juros. Mas como o País está em um momento de crescimento baixo, o resultado seria um desastre.

— [Aumentar os juros] desaceleraria mais o País ao invés de abater a inflação. Então o governo prefere conviver com a inflação no teto da meta. Derrubar a inflação quando a economia está meio devagar é difícil. É mais fácil quando a economia está mais aquecida, porque aí tem uma gordura.

Segundo o professor, o ideal seria crescer primeiro e, em seguida, combater a inflação.

Mas isso só deve acontecer a partir do ano que vem. Para os dois especialistas, a eleição presidencial só piora o atual cenário, porque mexe com a expectativa dos empresários e investidores, que ainda não sabem os planos para o País em 2015.

Aí sim, no ano que vem, independentemente de quem assumir a Presidência, investir, e investir muito — o que pode abrir caminho para o crescimento e o combate à inflação.

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