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sábado, novembro 23, 2024

Ademilson Pereira Carlos – Do trabalho na roça, a construção dos próprios brinquedos, a professor de Química e diretor da escola EEMOP

Professor abnegado de grande capacidade inventiva, aprendeu na infância e levou para a prática na vida adulta. Natural de Getulina cidade do interior paulista que fica entre Lins e Marília, com pouca idade já tabalhava na roça. Todos os irmãos tiveram o incentivo do seu pai, que queria ver os filhos formados em agronomia, uma bela trajetória de vida, de muito esforço, coragem e dignidade.
Jornal Folha Regional: Como foi a sua infância em Getulina?
Professor Ademilson: A minha infância foi entre as lavouras de café daquela região, estudando nas escolas de base, o meu pai Arquias Pereira Carlos trabalhava na lavoura de café e minha mãe Elides Maria de Jesus cuidava de todos nós no lar. Nós éramos em 9 irmãos, Roberto o mais velho, a minha irmã Ercília que está entre nós, meu irmão Amâncio já falecido, Antônio, Alivercilio, Maria, Romildo, Alcides e eu. Quando eu estava com 8 para 9 anos os meus pais mudaram para a vizinha cidade Lins afim de facilitar os estudos dos filhos. A cidade de Lins era uma cidade pecuarista havia muito gado, era a cidade mais avançada daquela região.
JFR: Como foi a influência do seu pai nos estudos dos filhos?
Professor Ademilson: Quando eu comecei a trabalhar eu tinha 8 anos de idade, eu ia para a escola cedo, quando chegava a tarde eu ia para a roça trabalhar ajudava o meu pai na lavoura de café. Naquele processo de trabalhar e trabalhar eu só sabia o que eu não queria para mim, eu imaginava que se eu estivesse num outro trabalho numa outa função eu conseguiria ficar rico e ter uma vida melhor. O meu pai sempre me dizia: “Meu filho você vai ser agrônomo”, essa determinação que ele dizia para todos nós, fez com que nós estudássemos, porque não tinha como ser agrônomo se não estudassemos. Essa foi uma técnica dele que ele utilizou para que todos nós estudássemos. Ele dizia também que o meu irmão mais velho o Roberto iria ser agrônomo, e ele virou um técnico em rádio e televisão. Ele que achava que eu ser agrônomo eu virei químico e professor de química, o outro irmão que ele também sonhava que fosse agrônomo virou professor de geografia, e o outro virou químico.
JFR: Qual o fato mais marcante na sua infância, o que o senhor trouxe de lá para a vida adulta?
Professor Ademilson: O que eu trouxe da infância para a idade adulta, foi a minha capacidade inventiva. Os meus brinquedos eram todos feitos por mim, durante o período escolar eu não me acertava muito bem com o futebol eu era muito ruim de bola, eu não sabia jogar bolinha de gude enfim eu não tinha afinidade com jogos. Mas a minha capacidade inventiva era muito grande, eu fazia pipas, fazia os meus carrinhos de carretel. Quando eu cresci eu comecei trabalhar eu achei que podia continuar criando, e inventei algumas máquinas para que fossem utilizadas na roça para trabalhar com os animais. O invento deu certo e facilitou a nossa vida no meio rural.
JFR: Quais as funções que o senhor exerceu durante a sua trajetória na vida adulta?
Professor Ademilson: Eu exerci algumas funções de liderança, e isso fez com que a minha capacidade inventiva fosse utilizada. Lá em Lins eu cheguei cedo a igreja católica, eu tinha 14 anos de idade fui presidente do grupo de jovens, e eu sempre atraia pessoas para perto de mim, eu trouxe uma moça chamada Rosângela, muito inteligente para atuar comigo para assumir a secretaria do grupo de jovens. Nós fizemos um bom trabalho e levávamos a comunidade local para as feiras agropecuárias, em especial a Expo Lins. Posteriormente levamos um grupo de pessoas para a festa do peão em Barretos.
JFR: o senhor ficou fora da escola por algum tempo, fale um pouco sobre aquele momento:
Professor Ademilson: Voltando um pouco no tempo, eu havia parado de estudar aos 12 anos de idade com o falecimento do meu irmão mais velho. Eu tive a necessidade de focar a minha vida no trabalho naquele momento para ajudar meu pai na roça, naquela ocasião eu estava na 4ª. série. Eu voltei a estudar depois que eu fiz o serviço militar obrigatório, eu já estava com 19 anos, mas não pude prosperar no Exército e nem na PM eu tinha apenas a 4ª. série primária. Voltei a estudar, conclui meus estudos, cheguei a presidente de sala, organizador de excursão. A partir de então eu segui o meu caminho fui para a universidade cheguei a presidente do Diretório Acadêmico, presidente do Centro de Estudo. Mas toda essa liderança é complementada pelo trabalho na roça e pelos estudos, sempre achava um espaço sem atrapalhar as duas atividades, ou seja o trabalho me sustentava e o estudo era o meu ponto de prosperidade. As minhas lideranças foram exercidas com naturalidade.
JFR: Como foi a sua trajetória no ensino superior?
Professor Ademilson: Em Lins eu estudei na Faculdade de Ciências Físicas e Biológicas, terminei o curso, fiz uma habilitação em Química, terminei a habilitação em Química, fiz um Bacharelado em Química, isso tudo em 5 anos.
JFR: Como foi a sua vinda para Mato Grosso, o senhor recebeu um convite de alguém?
Professor Ademilson: Eu sempre tive a mente aberta e perspectivas para melhorar economicamente, eu dizia para os meus amigos na sala de aula que quando eu me formasse eu daria aulas onde tivesse aulas. Após terminar a faculdade, eu retornei a secretaria para resolver uma documentação encontrei vários amigos ali conversando. De uma forma surpreendente chegou uma moça e disse: “Estou procurando professor para Mato Grosso, preciso de professor de Química, de Geografia, Matemática e Biologia.” Era a Ester da cidade de Novo São Joaquim aqui em Mato Grosso eu prontamente disse: eu vou. Naquele período eu estava trabalhando no Grupo Verdi no frigorifico e estava no cargo de conferente de exportação do frigorífico. Alguns amigos trabalhavam no escritório, então eu contei para a moça do faturamento, que estava vindo para Mato Grosso para dar aula. Lá encontrei também mais três pessoas, dentre elas o professor Luiz Carlos, a Roselina Amico e a Silvia. Juntamos nós quatro solteiros e viemos para Mato Grosso. Isso aconteceu durante o mês de janeiro de 1990, eu cheguei aqui em 15 de fevereiro de 1990.
JFR: O senhor tem um fato familiar, uma coincidência interessante que se passou em Lins, como se deu esse acontecimento?
Professor Ademilson: Realmente uma coincidência muito grande, o pai da moça que nos trouxe a boa notícia, era amigo do meu pai desde a época em que ele era solteiro. Ou seja meu pai já casado e o pai dela solteiro, eles eram amississimos só que nós não sabíamos, nós só descobrimos essa amizade no dia em que ela foi na minha casa dizer para o meu pai sobre as condições em que o filho dele com 30 anos estava vindo para Mato Grosso. Meu pai quis saber da família dela, e ela foi contando, e o meu pai disse: o seu pai é meu amigo, ele se tranquilizou e nós viemos embora para esta terra maravilhosa.
JFR: Qual foi a primeira cidade que o senhor trabalhou na educação em Mato Grosso?
Professor Ademilson: Eu vim inicialmente para trabalhar na cidade de Novo São Joaquim do Rio Manso, eu desci em Barra do Garças e saí no sentido Nova Xavantina. Eu fiquei em São Joaquim do Rio Manso que fica próximo a Campinápolis. Mas eu sempre achei que precisava ir para uma cidade maior, peguei uma lista telefônica e achei Rondonópolis, e sai procurando escolas para que eu pudesse ligar e conseguir uma vaga. Nesse interim eu achei o telefone da Escola Pastor Luther king, um professor me atendeu, era o professor Otaviano, ele me deu 18 aulas de Química. Eu fechei o negócio com ele e marquei dia e hora e vim para Rondonópolis, nessa ocasião corria o ano de 1992. Fiquei durante o ano todo aqui, mas em 1993 o meu amigo Zito foi eleito prefeito de Nova São Joaquim, ele falava nas campanhas que me levaria de volta para trabalhar com ele caso fosse eleito, e aconteceu. Eu tinha uma aprovação do concurso no estado, nesse interim o me chamou para a posse, tomei posse na escola Filinto Muller na Barra. A delegada de ensino de Barra do Garças professora Magda naquela época me transferiu automaticamente para assumir a direção das escola em São Joaquim, la eu fiquei trabalhando durante 4 anos. Venceu o mandato do meu amigo prefeito, era 1997 mas eu sempre tive a forte impressão que voltaria para Rondonópolis, e retornei.
JFR: Qual é a sua preocupação como ser humano e agente educador nesta sociedade capitalista?
Professor Ademilson: Desde pequeno eu sempre trabalhei para ficar rico, eu fazia contas e mais contas, e sempre pedia em minhas orações que eu queria ficar rico. Eu comecei a ler um livro Mente Milionária, e em um dos capítulos autor escreveu sobre as riquezas. Quando eu fechei o livro eu percebi que Deus me fez um homem muito rico, eu tenho 30 anos de estado e não tenho nenhum atestado médico, eu transito no meio dos jovens e adultos e não tenho nenhuma gripe, nunca tomei vacina contra a gripe. Esses eu sofri um pequeno acidente, mas não perdi o dia de serviço, fui medicado e ficou tudo bem. A riqueza que Deu me deu foi essa pelo menos por enquanto, mas eu venho batalhando pela questão econômica.
JFR: O senhor passou por diversas instituições educacionais cite algumas delas:
Professor Ademilson: Eu estou nesta escola Major Otávio Pitaluga há 22 anos, eu fui o primeiro professor de Química do CIE, trabalhei no Luther King, na Escola Pitágoras que era do Arthur, dei aula no Colégio São Lucas com a professora Eva Marilza, no Salmen Hanze na direção da professora Luiz e no antigo Jean Piage com o professor Galeno.
JFR: O que significa o momento família para o senhor?
Professor Ademilson: A família é a base de toda a sociedade organizada, onde temos a oportunidade de vivenciar e enaltecer os nossos dons pessoais que Deus sempre nos ofereceu. Eu conheci a minha esposa Marlete Aparecida Dantas, em Novo São Joaquim, nós nos casamos, temos duas filhas, a mais velha Laís Dantas Pereira formada em Administração, e a mais nova Lorena Dantas Pereira que estuda na UFMT em Cuiabá faz o curso de Química já há 2 anos.
JFR: Para encerrarmos a nossa entrevista agradecemos a sua gentil atenção e consideração para com a nossa reportagem. Aqui fica as nossas duas últimas perguntas: O que é fundamental na vida de um professor e de um diretor? A quem o senhor gostaria de agradecer por ter colaborado em sua trajetória de vida?
Professor Ademilson: O professor tem sempre que estar a um passo adiante, ele precisa ter o dom da humildade bem aflorado. Existe assuntos que ele não conhece e que o aluno conhece, mas como ele esta professor o tema ou o assunto ele sabe mais que o aluno. É um desafio muito grande, o professor tem que ser humilde. Já o diretor é um ponto de sustentabilidade da escola, ou seja ele precisa usar todas as suas habilidades para transitar com companheirismo em todas as atividades da escola. Não deve ser arrogante e nem austero. Com muita emoção, eu digo que na vida nos vivemos como abelhas num enxame, tem pessoas que abrem portas. Eu vejo o professor Jose Antônio Fávero, o professor Gláucio, Antônio Munhoz são pessoas que eu admiro e estão comigo há muitos anos. Muito grato por esta oportunidade.

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