“Desde o surgimento da internet, realmente ficou mais difícil mentir para a população. A vida do candidato que tem por linha mestra usar discursos aterrorizantes e falsários sobre o adversário ficou mais complicada de um tempo para cá, já que em um simples click o eleitor pode tirar o fato a limpo”
A palavra verdade foi a mais dita em meio ao primeiro debate presidenciável na TV, feito pelo grupo Bandeirantes, no último dia 15 de outubro, entre os candidatos que concorrem em segundo turno pela chefia da república, que será definida em votação no próximo dia 26 de outubro. Tanto a atual presidente, Dilma Rousseff (PT), quanto o candidato da oposição, Aécio Neves (PSDB), apesar de insistentes acusações que trocaram, preferiram repetir mais o termo que exemplifica a realidade, do que usar o que a negativa, no caso ‘mentira’, sobre qualquer assunto. A grande sacada usada por ambos foi sugerir ao telespectador que pesquisasse em órgãos de credibilidade como os sites do Ministério Público e do Tribunal de Contas para confirmar dados que por eles eram apresentados.
Desde o surgimento da internet, realmente ficou mais difícil mentir para a população. A vida do candidato que tem por linha mestra usar discursos aterrorizantes e falsários sobre o adversário ficou mais complicada de um tempo para cá, já que em um simples click o eleitor pode tirar o fato a limpo. Desta maneira, o que vem se notando é que as mentiras e as fofocas têm ficado para o submundo eleitoral, ou seja, hackers e outros profissionais contratados por cada coligação para difundir informações conflituosas e muitas vezes implantada para confundir o eleitorado. Do outro lado do ringue, o acusado tem de usar a inteligência para saber desmentir o fato sem dar a ele proporção ainda maior, o que seria terrível neste caso.
No facebook e whats app, por exemplo, é comum receber artes gráficas, algumas até bem elaboradas, o que dá a entender que foi feita por um profissional e este não perderia seu tempo sem ganhar nada, para atacar Aécio, insinuando que o tucano seria um usuário de drogas pesadas, assim como outros posts lembram um ‘pseudo’ passado negro de Dilma, elencando crimes e atos graves que teriam sido feitos pela candidata durante sua juventude. O raciocínio mais lógico a se pensar é que nem a petista e nem o tucano são anjos e assim como qualquer ser humano tiveram erros em suas vidas, mas o importante a se ressaltar é que o receptor de tudo isto: o eleitor, deve saber filtrar o que lhe chega e o melhor de tudo: tem a internet e uma gama enorme de informações disponíveis para saber da vida profissional e pessoal de Dilma e Aécio para definir nas mãos de quem quer ver o país nos próximos quatro anos.
Algum pouco tempo atrás, apenas jornalistas e escritores tinham o poder de emitir suas opiniões em larga escala, ou seja, para um grande número de pessoas lerem ao mesmo tempo. Hoje, qualquer um que possua uma conta pessoal bem desenvolvida no facebook consegue fazer isto muito bem e também por isto deve ter noção de sua responsabilidade. A democratização da liberdade de expressão em larga escala, com as redes sociais, também trouxe o perigo da imprudência, já que muitos indivíduos se acham os formadores de opinião e passam informações a frente sem a devida conferência da verdade, realizando o inverso do que seria o real papel da ferramenta de informar a população. Embora também tenha ficado mais fácil pesquisar a verdade, também ficou mais intensa a proliferação das mentiras.
O jornalista Ricardo Boechat, da Rede Bandeirantes, disse algo interessante no pós-debate, analisando a conduta de cada candidato e as possíveis verdades e inverdades ditas em meio ao confronto. Boechat argumentou que tudo depende da ótica em que se olha: um mesmo fato pode ser interpretado de maneiras diferentes, obviamente partidariamente, e não ser mentira, mesmo dito de ângulos diferentes por cada oponente. O comunicador lembrou especificamente sobre o caso do bolsa família, onde ressaltou que nem Aécio está errado em dizer que o benefício tem raízes no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), assim como ressaltou que Dilma tem razão a atribuir méritos ao ex-presidente Luis Ignácio Lula da Silva (PT) na originalidade do programa. Assim como já disseram outros pensadores da história, Boechat adotou em suas palavras o já conhecido pensamento de que a verdade é relativa.
Por mais que muita gente sustente que está havendo algo muito prejudicial, especialmente à juventude, depois da popularização da internet e sobretudo das redes sociais: que é o menor apego a leitura e outras boas práticas de cunho intelectual, também é fato de que as pessoas passaram a trocar mais informações e isto tem contribuído para o avanço de algumas áreas como é o caso da política. O facebook e o twitter têm sido fundamentais para que os candidatos sejam analisados, filtrados e até desmascarados. Muita coisa está piorando em nossa sociedade, mas uma coisa temos que comemorar: ficou mais difícil mentir em grande escala em tempos digitais.
Da Redação