Até alguns anos atrás era praxe que as empresas fizessem seu planejamento e as devidas previsões orçamentárias num horizonte de médio e longo prazos. Ainda me lembro que era normal fazer projeções para cinco até dez anos.
O todo era embasado num cenário de previsibilidade, onde as taxas de crescimento de vendas e o comportamento dos principais indicadores da economia supostamente previsíveis balizavam o exercício do planejamento empresarial, fluxo de caixa e orçamento. Também era muito comum que as projeções fossem feitas de " cima para baixo " ou seja: os gestores do alto escalão definiam as variáveis e metas a serem alcançadas e a equipe tinha que correr atrás dos objetivos. Havia pouco envolvimento dos escalões inferiores no processo de planejamento. De outro lado, premiações por desempenho estavam fortemente atreladas aos resultados alcançados em relação às metas estabelecidas. Em resumo, todos precisavam correr atrás do que era estabelecido, e não participavam do exercício de planejamento.
Aos poucos novos ventos começaram a soprar na administração das empresas. Da década de 80 em diante um novo ferramental administrativo foi sendo utilizado, como a Análise SWOT por exemplo, (Forças, Fraquezas, Ameaças, Oportunidades) que exigia a participação de equipes de funcionários. De repente a administração foi se tornando mais participativa com um número muito maior de pessoas na organização começando a se envolver em questões táticas, estratégicas, de mercado e conjunturais. Trabalhar não era mais simplesmente executar, mas também participar na discussão e no planejamento das tarefas. Nesta época, o ambiente externo, o desenvolvimento tecnológico, as táticas concorrenciais ainda eram calcadas na previsibilidade. Por outro lado, já se falava em ameaças externas, mas as reações por parte das empresas eram lentas.
Todo processo administrativo, hierárquico e burocratizado fazia com que as decisões a serem tomadas demorassem e o próprio mindset da cultura de gestão não estava pronto para ações rápidas. Basta lembrar nos ciclos e nas etapas do desenvolvimento de produtos e suas inovações. Tudo era programado de acordo com o que era estabelecido pela direção da empresa. O consumidor poderia esperar ou melhor, ser surpreendido com inovações ou novos produtos conforme os planos empresariais.
O desenvolvimento tecnológico, em particular da informática e comunicação, trouxe grandes e rápidas mudanças no mercado e no comportamento do consumidor. A transformação digital com sua disruptividade forçou as empresas, dos setores mais tradicionais às de áreas de atuação tecnologicamente avançadas, a mudar sua forma de administrar e planejar.
A economia 4.0 que surgiu dessa evolução não deu mais espaço à previsibilidade. Esse processo de mudanças rápidas começou a pesar como uma espada de Dâmocles sobre pequenas, médias e grandes empresas que ainda se prendem ao passado.
Para sobreviver e continuar atuando nesta nova realidade, as empresas precisam se adaptar rapidamente. Não cabe mais tentar empregar ferramentas de algumas décadas atrás no planejamento das organizações. É inconcebível falar de um planejamento com horizontes de um, dois, cinco anos. Metas a serem alcançadas a médio e longo prazo poderão ser traçadas, mas as rotas precisam ser revistas continuamente e eventualmente corrigidas em questões de semanas. As organizações precisam estar preparadas para mudanças e adequações de rotas contínuas. Assim sendo, as equipes de funcionários precisam estar a par do andamento das coisas e serem constantemente alertadas sobre eventuais mudanças. A boa comunicação interna, processos decisórios rápidos e um planejamento em equipe com metas estabelecidas a curtíssimo / curto prazo são pontos a serem incorporados imediatamente no dia a dia de nossas empresas.
Importante ainda lembrar, que a administração de caixa continua a mesma, como décadas atrás. Sem um bom controle de caixa e uma boa geração operacional dos recursos financeiros nenhuma empresa sobreviverá mesmo adotando as mais modernas técnicas de administração.
Thomas Lanz