A marca da violência doméstica

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Estamos no mês de agosto, que possui significado importante para o enfrentamento à violência doméstica e familiar no Brasil. Em razão da comemoração pelo aniversário da Lei Maria da Penha, surgiu o agosto lilás, como forma de fomentar o debate. Mesmo assim, os corpos das mulheres não são poupados. Elas seguem sendo vítimas…           

Porque nos assustamos tanto quando uma mulher expõe, sem filtros, as marcas da violência doméstica? É quase impossível não abrir uma notícia anunciando que existe uma mulher ferida pelo seu “amor” ou “ex-amor”. Não por curiosidade, mas, muitas pessoas decidem averiguar o respectivo noticiário, até para conferir se realmente é verdade. Por que teria coragem, alguém em que a confiança de vivenciar experiências foi depositada, de agredir outrem?            

O momento da agressão deve ser algo inimaginável. O que a vítima fica a pensar, se é que ela tem tempo para isso? Puxa! Quantos sentimentos misturados! E os amigos, amigas e familiares que conviveram com esse casal, o que acham? Pai e mãe, que presenciaram o crescimento da vítima, jamais imaginariam ver a filha naquela situação lastimável. 

Se para os desconhecidos e desconhecidas é muito difícil ver cenas de corpos de mulheres marcados, muitas vezes em sangramento, para os conhecidos e conhecidas é muito mais complicado.   

Olhar detidamente a mulher vítima das agressões cometidas pelo companheiro é perceber que ele a machucou, em regra, no rosto, ou, nas partes íntimas. Destruir a auto estima? Ou aniquilar a vontade dela poder ou querer se relacionar com outra pessoa? Nada, absolutamente nada, pode explicar ou compreender essas agressões.           

Por isso é importante não desmerecer ou banalizar qualquer toxidade demonstrada pelo homem durante o convívio. O ciúme, por exemplo, como forma de controlar comportamentos. 

A tentativa de mudança da conduta da companheira. O controle das amizades, da maneira como se veste etc. O mais curioso é que algumas pessoas no entorno do casal confundem essas atitudes com a demonstração de amor. Na atualidade, esse “controle” é mais visível com a era digital extremamente facilitada. Nas brigas, geralmente, é o celular o primeiro objeto a ser destruído.           

E o agressor? É tuitivo, porquanto, ele dirá que somente se defendeu das agressões da mulher. Ele dirá que não desejava lesionar. Ou, também, afirmará que não foi ele quem a machucou. Seria mentira dela? Por que quantas delas estariam faltando com a verdade, ou, ainda, agredindo os seus “amores”? Teriam elas construído uma “teia” de inverdades em massa contra eles? Não são esses os motes que as investigações e estatísticas apresentam.           

Viver os 14 anos da Lei Maria da Penha, trabalhando e defendendo a sua aplicação e efetividade diariamente, é realidade para muitas e muitos profissionais. Todavia, abrir ao noticiário e se deparar com o rosto de uma vítima ferida por socos, chutes e pontapés cometidos por um homem com quem convivia, é dolorido. Ninguém jamais se acostumará com cenas assim. E o homem justifica, sempre. Tem, também, comentários de terceiros buscando motivação. Dor, muita dor!           

Mulheres: confiem no sistema de justiça. A lei, de fato, as protege. Não busquem qualquer culpa para a agressão, ou para o fracasso do relacionamento. Esperar por outra violência, ou que o agressor mude de atitude é, no futuro, engrossar tristes números…

           

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.