Em tempos de “provocação”, no sentido do estímulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da abertura da 16ª plenária da CUT falando em criatividade e reconstrução. “O tempo que eu tenho pela frente está à disposição para a gente reconstruir este país, reconstruir o movimento sindical, levantar a cabeça do povo trabalhador”, afirmou Lula na noite desta quarta-feira (20). A uma semana de completar 76 anos, ele disse ter “energia de 30 e tesão para brigar de 20”.
O petista não citou o nome do presidente da República, a quem chamou de “incivilizado”. “Ele convive com as fake news e as mentiras dele, e quem sabe com uns milicianos mais próximos. Mas esse é o Brasil que nós herdamos da Ponte para o Futuro (programa do MDB de Michel Temer), do impeachment da companheira Dilma Rousseff, daqueles que diziam que o PT tinha destruído o país. Eu fico preocupado com vocês, me preocupa o clima de ódio que está estabelecido. Tenho saudade de um tempo em que a gente era mais humano, não era algoritmo.”
Bolsa Família
A exemplo do que havia feito mais cedo, Lula defendeu o auxílio emergencial e o benefício do Bolsa Família de R$ 600, dizendo não se importar com um possível uso eleitoral por parte do presidente da República. “Vamos esquecer as eleições de 2022. O povo precisa comer, trabalhar, ter acesso à saúde, ser respeitado. E nós vamos ganhar as eleições. Ele pode dar 400, 700, 800, porque não é ele que está dando, é o próprio dinheiro do povo.”
O ex-metalúrgico disse considerar que fazer sindicalismo nos anos 1970 era mais fácil, apesar do período de ditadura. “Era um tempo de efervescência sindical, de reconquista das liberdades democráticas. Eu tratava o sindicato como órgão de contestação. Dos empresários, do governo, da política econômica.” Agora, é preciso repensar a estrutura sindical e os novos desafios do mundo do trabalho. “Essa indústria dos aplicativos está consumindo a energia da nossa juventude”, disse Lula. Para ele, o discurso de empreendedorismo no setor esconde uma condição próxima à de escravidão, sem direitos ou proteção social.
Outro mundo, outro sindicalismo
O mundo não prescindirá dos trabalhadores, afirmou o ex-presidente aos cutistas. “É um tempo de provocação. Temos de ser mais criativos, estudar mais”, afirmou, quase ao final do pronunciamento de exatos 30 minutos. Para Lula, se “um outro mundo é possível”, um “outro movimento sindical é necessário para que isso aconteça”.
Coordenadora da plenária, a secretária-geral da CUT, Carmen Foro, afirmou que o evento – no formato virtual – ocorre “em condição bastante adversa”, mas lembrou que os trabalhadores resistem e vão discutir formas de organização e novas estratégias. Ela lembrou que, dos 951 delegados, praticamente metade (49,4%) são mulheres. “Estamos chegando à paridade.” Além disso, as plenárias estaduais envolveram aproximadamente 5 mil dirigentes em todo o país.
Crise tem nome
Ela chamou a atenção para um cenário de alta da inflação, dos preços da cesta básica, de aumento da pobreza extrema e da fome. “Essa conjuntura econômica de crise tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro e seu governo”, afirmou Carmen. Segundo a secretária-geral, o presidente da República “é inimigo da classe trabalhadora. além de mulheres, negros e negras, das comunidades indígenas e quilombolas, crianças, da comunidade LGTB”. Ele e o governo, acrescentou, “trabalham cotidianamente para acabar com o Estado brasileiro, com os serviços púbicos, as estatais, as políticas públicas”.
Os trabalhos da plenária da CUT começam na manhã desta quinta-feira (21). Às 10h, está programada conferência com a ex-presidenta Dilma Rousseff e o ex-chanceler Celso Amorim. O evento vai até a tarde do domingo (24).
Novo modelo
O presidente da CUT, Sérgio Nobre, afirmou que o grande desafio do movimento sindical é se adaptar às mudanças no mundo do trabalho, com fenômenos como o home office e a informalidade. “O mundo que sai da pandemia não cabe mais no nosso modelo”, afirmou, lembrando que a representação, até agora, se concentra em trabalhadores formais, celetistas do setor privado e concursados do setor público. “Não é uma mudança só de estrutura. É uma mudança cultural, na nossa forma de atuar.”
Na abertura, foram exibidos vídeos com mensagens da presidenta da Confederação Sindical Internacional (CSI), Sharran Burrow – que citou Lula e falou em “chance incrível de restaurar a democracia” no Brasil –, e do secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), Rafael Freire. Também foram feitas homenagens aos ex-presidentes cutistas João Felício e Kjeld Jakobsen, que morreram em 2020 e 2021, respectivamente.
Fonte: Rede Brasil Atual