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quinta-feira, abril 25, 2024

Porque vais Barbosa?

Seria possível imaginar o caos que se instalaria em Gotham City se um dia o Batman anunciasse que não mais atuaria em defesa da cidade? Pinguim, Coringa e companhia limitada certamente destruiriam as redondezas em pouquíssimo tempo. Previsão parecida faz parte da população séria brasileira que vislumbra os próximos meses de retorno a triste normalidade do Supremo Tribunal Federal- STF, quando outrora se mantinha inerte frente a casos de corrupção que assolavam a política da nação. A partir do final de junho, o homem da capa preta tupiniquim, Joaquim Barbosa, não será mais presidente do Supremo, muito menos membro da mais alta instância do judiciário nacional. O nosso “herói” renunciou a ideia de continuar fazendo justiça, talvez porque estava pesado carregar nas costas tanta coisa que não sai no gibi.
Com uma carreira que certamente já marcou época, Joaquim Barbosa deixa um legado apavorante, de certo modo, a todos nós brasileiros. Com a mesma constituição que muitos outros já tiveram nas mãos como presidentes do STF, ele conseguiu implantar a moralidade e pôs corruptos na cadeia, mesmo que no semiaberto e não como devidamente queríamos. Isto nos leva crer que outrora então o que faltou era vontade? E a partir de agora? Será que com Ricardo Lewandowski continuará a mesma linha enérgica ou o que teremos é um braço oculto da presidência, como inclusive já ocorre na Câmara dos Deputados?
Barbosa não poderá ser candidato como muitos queriam, pelo menos este ano, e talvez nem fosse tão efetivo como um deputado, ou até mesmo como um presidente da república, porque como o próprio Joaquim sabe: o sistema é sujo e depende-se da maioria para fazer algo relevante, e a maioria no Brasil, sobretudo política, não é lá digna de muita vontade de melhorar as coisas, a não ser para si próprio ou para um grupo seleto. O atual ministro se despede sem dizer claramente o porquê da partida, mas não leva consigo toda a esperança de um povo. A mensagem que fica é que ainda há lugar de destaque para quem prioriza o certo e este ser tem sim chance de conseguir um lugar ao sol e ascender, mesmo que a caminhada seja bastante solitária.
Na última semana, Barbosa deixou um de seus momentos inesquecíveis quando pediu a seguranças do STF que retirassem um advogado desvairado que teimava em cobrar da corte que votasse pela prisão domiciliar do seu cliente, o mensaleiro José Genoíno, do PT. O presidente disse claramente na saída do fanático jurista, o advogado Luiz Fernando Pacheco: “a república não pertence a vossa excelência, nem a vossa grei”, fazendo clara alusão e crítica ao grupo de petistas envolvidos com o maior caso de corrupção já descoberto no Brasil.
O mais irônico de se analisar na conduta do popularíssimo Joaquim Barbosa é que em nenhum momento ele faz questão absoluta de ser totalmente a ‘voz do povo’ e não só porque está na posição que está, mas até mesmo em entrevistas. Na rua, por exemplo, ninguém usa a palavra ‘grei’ para se referir a uma agremiação qualquer, mesmo assim o que ele fala enche os olhos e os ouvidos de quem assiste pela TV, mesmo sem saber exatamente o que significa. Acontece que o que povo vê em Joaquim é vergonha na cara, seriedade e outros valores que todo mundo sabe que não existem em muitos dos candidatos que virão até as residências pedirem votos em meados de setembro e começo de outubro.
A população tem consciência que é breve a estadia destes bandidos do colarinho branco na cadeia. Parece não importar que o dinheiro público que desviaram, e certamente não devolverão, matou milhares de pessoas que não tiveram vagas em hospitais que acabaram por nunca serem construídos. Talvez com a saída de Barbosa, seja até mais rápido do que se pensava as libertações. Não há de se duvidar que Lewandowski ache rapidamente brechas jurídicas para conceder a prisão domiciliar que Genoíno quer, ou se não fazer melhor para o político. A conduta de Barbosa deixou uma coisa bem clara a todos nós brasileiros: não é a legislação ou qualquer outro entrave que nos impede de ser um país sério, é simplesmente porque quem tem o poder nas mãos não quer melhorar a coisa. Falta vontade. Joaquim não é covarde porque saiu, muito menos está sendo egoísta. Pode ser que o ‘nosso batman’ sentiu que a batgirl veste mesmo vermelho e não está do lado do bem.
Hevandro Soares

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