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sexta-feira, abril 26, 2024

Uma data histórica esquecida

Quando da minha época escolar o dia13 de maio figurava no calendário dos feriados nacionais. Nas escolas se faziam comemorações alusivas à efeméride.. Hoje, essa data caiu no esquecimento e muito provavelmente poucos serão os jovens que saberão responder sobre o que se comemora nesse dia.
Nossa pátria teve uma página negra da sua história escrita pela escravatura dos nossos irmãos africanos que, arrancados, literalmente do seu convívio nos rincões de sua terra natal, para cá eram trazidos como animais nos porões dos navios negreiros, para, escravizados, trabalharem para os nossos colonizadores.
E foi, exatamente, a l3 de maio, há 122 anos, que a Princesa Izabel assinou a Lei Áurea, garantindo a liberdade àqueles que com o suor do seu rosto e com suas mãos calejadas, vinham dando a sua contribuição para a construção da pátria brasileira.
O negro teve a sua participação incontestável na construção da cultura brasileira e através da miscigenação das raças deixaram o seu legado que até hoje se traduz na arte, na música, na literatura, na religiosidade..
O negro hoje está integrado à sociedade e á cultura brasileiras. Mas, não obstante a Lei “Afonso Arinos” que proíbe e pune a descriminação racial, não obstante os movi mentos a favor da unidade dos indivíduos, qualquer que seja a sua etnia, o negro ainda sofre descriminação, ainda é, por muitos considerado um pária da sociedade.
A ambivalência com que a sociedade branca dominante reage quando o tema é a existência de um problema negro é sua marca predominante.
Quando o problema é o tratamento que o negro recebe da sociedade dita branca um dos traços marcantes dessa problemática é a hipocrisia permanente, resultado de uma ordem racial cuja definição é, desde a base, viciada.
Ser negro no Brasil é frequentemente ser objeto de um olhar vesgo e ambíguo. Essa ambiguidade marca a convivência cotidiana, influi sobre o debate acadêmico e o discurso individualmente repetido é, também, utilizado por governos, partidos e instituições.
A discussão da problemática racial no Brasil, entendemos nós, .deveria ter como ponto de partida tres pressupostos básicos: a corporeidade, a individualidade e a cidadania.
A corporeidade implica em dados objetivos, ainda que interpretada subjetivamente. A individualidade compreende dados subjetivos ainda que a sua discussão possa ser objetiva. A cidadania estabelece a igualdade entre os indivíduos, qualquer que ele seja, independente da sua casta social. Em teoria a cidadania é definida por franquias políticas de que se pode dispor, acima e além da corporeidade e da individualidade. Em nossa sociedade, porém, seu exercício está em função da posição relativa de cada indivíduo na esfera social.
Nesse contexto a cor se impõe como uma marca visível e não raro a aparência é privilegiada como condição de objetivação e de julgamento. Assim cria-se uma demarcatória de identificação e separação social, independente da individualidade e da cidadania. E assim a própria corporeidade se torna um dado ostensivo de uma avaliação preconceituosa..
A individualidade, por sua vez, figura como uma herança cultural de formas de agir e reagir. Afigura-se, assim como uma conjunto de atitudes ao mesmo tempo, sociais, emocionais e intelectuais.
As convicções escravocratas, em nosso país, ainda permanecem com suas raízes na sociedade, não apenas simbolicamente mas incidem na relações sociais, com a corporeidade representada pela cor tendo um peso que se sobrepõe à individualidade no interrelacionamento sócio-político que da origem a uma cidadania discriminativa..
J.V.Rodrigues

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