Migalhas, excessos e a fome dos deserdados

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Um caminho econômico em que sejam garantidas a todos condições dignas de sobrevivência não é pensamento nefelibata. Sempre um bom termo pode surgir quando os indivíduos nele lealmente se empenham. Bem a propósito este ilustrativo aforismo do padre português Manuel Bernardes (1644-1710), autor de Pão partido em pequeninos: “Com bom regulamento pode até o pouco bastar para muitos; sem ele, nem a poucos alcança o muito. Todo excesso, nos particulares, causa, no comum, penúria. De dois que estão no mesmo leito, se um puxa muito a coberta para si, é forçoso que o outro fique descoberto”.
De maneira alguma estou propondo que as migalhas que caem das mesas fartas sejam a base da existência dos que vivem na miséria. Não falo de sobras; porém, da consciência honesta, que não pode eternamente admitir que o seu bem-estar permaneça estabelecido sobre a fome dos deserdados. Isso é Evangelho puro de Jesus; é a essência da mensagem dos Livros Sagrados e da Regra de Ouro1 das mais diversas culturas; é a voz de tantos notáveis, religiosos ou ateus, que não podem conceber que, no terceiro milênio, ainda haja populações submetidas à pobreza num planeta construído pela Bondade de Deus.

José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com

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1 Regra de Ouro — Também conhecida como “A ética da reciprocidade” ou “Regra Áurea”. Trata-se de máxima ou princípio moral comum a várias crenças e filosofias. Na Bíblia de Estudo Almeida (1999), encontramos a informação de que a clássica “Regra de Ouro” era conhecida entre os povos da Antiguidade, sobretudo na sua forma negativa: “Não façais aos outros aquilo que não quereis que vos façam”. No entanto, é ressaltado que “Jesus a proclama na forma positiva, como princípio de ação” — “Fazei aos outros tudo quanto quereis que vos façam” (Evangelho, segundo Mateus, 7:12).

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Trecho extraído do novo livro Tesouros da Alma (Editora Elevação), de Paiva Netto, 304 páginas.