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quarta-feira, abril 24, 2024

Dra. Luciana Abreu Horta – Médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU)

A edição desta semana da coluna Espaço Aberto será especialmente dedicada ao Dia da Mulher, celebrado neste dia 8 de março. A convidada do nosso bate-papo, para representar a classe feminina, é a médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Luciana Abreu Horta. Ela ganhou destaque no último mês após protagonizar uma história emocionante em Rondonópolis. Ela juntamente com a equipe do SAMU salvou um bebê, a mãe da criança havia passado mal e vindo a óbito antes de dar a luz. Saiba mais sobre esta história abaixo e conheça mais sobre a nossa entrevistada.
Perfil
Dra. Luciana Abreu Horta é natural de São José do Rio Preto (SP) e mora em Rondonópolis há seis anos. Ela trabalha no Samu, na Materclin, Ceadas e Lacic, além da rede pública de saúde. Formada em Medicina pela Universidade de Itaperuna; Especialidades: Cirurgiã Geral e Cardiologia Vascular.
1. Folha Regional – Por que escolheu a profissão de medicina?
Dra. Luciana: Sempre gostei só que eu tinha medo de cirurgia, eu entrei na medicina e me apaixonei pela cardiologia. Depois eu comecei a gostar de urgência, sou apaixonada. A urgência me fascina, fiquei em Belo Horizonte em um hospital do trauma, muito grande, chamado Hospital João XXIII. Tudo acontece no João XXIII, eu rodei uma época de estágio lá e me apaixonei ainda mais pelo trauma.
2. Folha Regional – Desde qual a idade a senhora já sabia qual profissão queria?
Dra. Luciana: Desde a adolescência entre os 13 e 14 anos. Eu não venho de família que tenha médico, meu pai não é médico, eu gostava de ajudar as pessoas e de querer salvar vidas.
3. Folha Regional – Quais os pontos negativos da profissão?
Dra. Luciana: O ponto negativo é o preconceito em ser mulher, eu tive um chefe muito carrasco, foi meu professor em cirurgia vascular e foi meu professor na faculdade, eu achava que ele era mal amado por dizer isso: ‘você como mulher, você tem que chegar perto do homem, ultrapassar vai ser muito difícil na nossa área’, ele batia duro, queria que eu chegasse perto, porque é uma especialidade preconceituosa. Você vai a um cirurgião, já se pergunta: ‘eu vou em um homem? Ou em uma mulher?’
4. Folha Regional – E o lado positivo de ser médica?
Dra. Luciana: É muito gratificante, pensa, receber um abraço, um elogio, falando que “poxa o que você fez valeu a pena”, não tem preço. Não é o dinheiro, é valer a pena, é o obrigado. Isso diz tudo.
5. Folha Regional – A sua profissão é muito corrida?
Dra. Luciana: A minha profissão é corrida porque o dia-a-dia faz isso, então assim, é consultório, cirurgia, eu sou mãe de um menino de quatro anos, às vezes, preciso ir a escola, você tem várias coisas para fazer, você tem sua casa, tem o filho, a escola dele, os deveres, os pacientes.
6. Folha Regional – Qual o maior sacrifício da sua profissão?
Dra. Luciana: De deixar em casa, a criação do filho, por exemplo, ele vai fazer cinco anos em abril, eu não lembro de muita coisa, mas graças a Deus, está tranquilo, ele cresceu bem. Eu não sei muito bem te falar assim às lembranças que eu tenho, muitas vezes eu tive que abdicar do tempo com ele, para estar tratando de paciente.
7. Folha Regional – Por que escolheu Rondonópolis?
Dra. Luciana: Meus pais plantavam soja em Guiratinga (MT) e quando terminei a faculdade fiz cirurgia geral e cirurgia vascular, eu estava iniciando mestrado em Belo Horizonte, eu pensei que a oportunidade seria vir para Rondonópolis. Eu tinha vindo aqui e conversei com a direção da Santa Casa, disse qual era a minha formação e que gostaria de ficar próxima aos meus pais, foi aí que tomei a decisão e vim. Eu comecei no PA (Pronto Atendimento) dou graças a Deus porque foi tendo que dar plantão de clínico para conseguir chegar aonde cheguei. Não foi fácil.
8. Folha Regional – Avaliação que faz da saúde no nosso município?
Dra. Luciana: Eu acho que a saúde pública hoje ela está defasada, não é em Rondonópolis, não é em Cuiabá. Hoje vemos que o dinheiro gasto com a saúde pública ainda é pouco, deveria ter mais investimento, não estou citando Rondonópolis como problema, é uma questão que hoje conversando tem problema em todo lugar, há fila em hospitais muito grande, o gasto com a Saúde ainda é pouco.
9. Folha Regional – Sobre o caso do bebê, o que passou na sua cabeça após o fato?
Dra. Luciana: Assim, eu olho para trás e me pergunto: ‘meu Deus fui eu que fiz isso?’ Foi uma decisão muito difícil de ser tomada, eu olho para trás e só penso em Deus, no que eu tive em relação a isso. No que eu passei se não fosse Deus eu não teria feito aquilo, eu sou cirurgiã, não sou obstetra, e a decisão foi muito rápida. Graças a Deus, eu tive a ajuda dos meus colegas que estavam trabalhando comigo, a enfermeira e o bombeiro. Foi uma decisão muito rápida ver a mãe morta e eu precisava salvar o bebê. Talvez eu não conseguiria salvá-lo, mas naquele momento, eu tive que realizar uma abordagem rápida para tentar salvá-lo. O bebê nasceu e eu tive que reanimá-lo e graças a Deus está bem.
10. Folha Regional – Quando a senhora tomou conhecimento da repercussão?
Dra. Luciana: No sábado, isso foi na sexta-feira. Eu não consegui me desligar, a noite inteira, eu não dormi no plantão, eu fiquei muito agitada, pela situação toda. No sábado, por volta de 11h30, eu cheguei em casa, meu filho querendo conversar e o telefone tocando, o pessoal perguntando. Os amigos perguntando: “Luciana, você fez isso?”, e eu respondi que sim, todo mundo me parabenizando, me agradecendo.
11. Folha Regional – Esse foi o caso mais marcante da sua carreira?
Dra. Luciana: Digo que foi a decisão mais difícil de ser tomada, rápida e difícil, se você olhar não é uma situação cômoda para você. Não é um acidente, que você pega, tem que estar lá, é uma abordagem difícil de ser feita, eu não tinha material, tinha uma lâmina de bisturi só, não é uma situação confortável.
12. Folha Regional – Como é trabalhar no SAMU?
Dra. Luciana: O SAMU é minha paixão, eu sou suspeita para falar, acho que é uma instituição federal que mais deu certo, fora as instituições militares, traz muito bem para a população. Feliz do município que dispõe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e quem faz, faz porque gosta, porque você corre risco de acidente, você passa por uma série de fatores, quem está lá gosta. Acho que o SAMU só tende a crescer.
13. Folha Regional – Deixe uma mensagem para as mulheres.
Dra. Luciana: Eu falo que nós mulheres temos que ter o nosso espaço e conquistamos isso ao longo dos anos, quando deixamos de ser submissa ao sistema. Neste ponto deixa a gente um pouco mais forte, acho que é isso, que ela tem capacidade para qualquer coisa, para escolher qualquer profissão, ser caminhoneira, mecânica, médica. A gente consegue o que a gente quiser.

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