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quarta-feira, abril 24, 2024

Como não tem quem mande, o crime manda

Foi alvo de extensa discussão entre os então candidatos à presidência, em meio a corrida eleitoral que findou com a vitória e reeleição da petista Dilma Rousseff (PT), no último 26 de outubro, quanto ao real papel do Governo Federal em propor políticas na área de segurança pública. O derrotado Aécio Neves (PSDB), chegou a argumentar que deveria ser incumbência da presidência investir e apoiar os governos estaduais, que hoje são os totais responsáveis por manter as polícias militares e civis funcionando em cada uma das 27 unidades da federação. A petista lembrou que constitucionalmente o papel de gerir e financiar o combate contra o crime nas cidades é realmente dos governadores, mas teve a mesma opinião do adversário no tocante a fortalecer a Polícia Federal, sobretudo na imensa fronteira seca brasileira, para inibir o tráfico de drogas.
Pois bem, em meio a este jogo de empurra, esta questão sobre de quem é de fato a batuta contra o crime tem deixado como maior prejudicada a população. Nenhuma política pública efetivamente tem feito a diferença no país e alguns policiais têm sido os bravos e únicos heróis da sociedade na luta contra assaltantes e outros malfeitores. Claro que do lado que deveria ser só do bem, todos nós sabemos que tem muita gente de farda que está corrompida e fortalecendo o lado do mal, mas o principal calcanhar de aquiles é, sem dúvida, o pouco recurso com que é conduzido o setor de segurança pública. No máximo, é possível se pagar os vencimentos dos policiais, que deveriam sim ganhar mais por seus perigosos afazeres, mas isto é pouco, muito pouco. Projetos e grandes ações policiais, com clara intervenção do governo e com cunho social, nos últimos anos quase não existiram e talvez a única modificação de quadro por um projeto com esta raíz que realmente teve efeito em boa proporção foram as pacificações das favelas do Rio de Janeiro.
Seria interessante o Governo Federal entender melhor a palavra ‘Estado’, que se refere na constituição, fazendo alusão a segurança pública, como toda a junção dos poderes, até porque se perguntar para qualquer pessoa na rua quais são suas prioridades e o que mais quer do Poder Público certamente que a resposta vai ter a saúde, segurança e educação como os três principais pontos. Desta maneira, como justificar o fato de que 60% do que é arrecadado fica nas mãos da presidência da república e esta não atuar em prol de garantir a sagrada paz às pessoas? Os governadores sabem que com o dinheiro e efetivo que têm nas mãos não podem fazer nada mais que o básico. São cobrados por prefeitos, se reúnem com os comandantes das polícias para repassar a cobrança e ouvem que não há estrutura para atender. Definitivamente, no país do futebol, a segurança não é prioridade.
Fora a questão de recursos, a mentalidade parece que também não é das melhores. Enquanto representantes das principais entidades representativas da maior cidade da região sul de Mato Grosso apresentavam ao governador do estado, em sua sala de reunião, um alarmante número de assassinatos no Município de onde vieram, o secretário de segurança pública cochichava no ouvido do gestor e explicava que 90% dos casos citados envolvia ex-presidiários e pessoas com algum tipo de relação com o crime, como se isto justificasse e tornasse tudo normal. Quem estava na sala viu, quem estava perto da cadeira da ponta ouviu. Este é o típico retrato da segurança pública, ela definitivamente não é uma política pública, pois não tem nada de social.
A frase de que: ‘chegou a hora’, não cabe para justificar uma vida ceifada por uma arma de fogo ou por qualquer outro meio agressivo. Qualquer motivo hoje está sendo combustível para se sacar uma arma, até porque qualquer cidadão pode conseguir o instrumento mortal na esquina mais próxima e nem precisa ter muito dinheiro para isso. O mercado de armas, aliás, é tão lucrativo como o de drogas, se não for mais. A pulga atrás da orelha aparece quando cochichos, tão maldosos como o do secretário de segurança, chegam até nós e dizem que alguém ou alguns muito importantes na verdade não têm intenção nenhuma que toda esta suja engrenagem pare, porque na verdade são eles os chefes. Logo eles, que teriam força para iniciar algo importante contra tudo isso, usando da valiosa cadeira que sentam na terra dos calangos.
O levantamento produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgado na última semana nos deixa ainda mais assustados. A famosa sensação de estar no olho do furacão se confirma quando o 18° estado em número de pessoas é o 8° em número de mortes em toda nação. Esta é a realidade de Mato Grosso: vidas interrompidas, histórias de pais que nunca mais verão seus filhos e de filhos que não passarão mais seus domingos almoçando na casa de seus pais. A palavra de ordem é correr desta realidade, se trancar em casa e orar (pra quem tem fé) para que tudo em um milagre se resolva. Pois no campo da racionalidade, enquanto não há ‘vontade’ de mudança, nada muda…

Da Redação

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